EnglishEspañolPortuguês

Macacos serão enviados a Marte

3 de novembro de 2015
10 min. de leitura
A-
A+

Fátima ChuEcco/Redação ANDA

Macacos na Rússia forçados a executar tarefas em troca de comida. Foto: Divulgação
Macacos na Rússia forçados a executar tarefas em troca de comida. Foto: Divulgação

Nesse momento, quatro macacos Rhesus estão sendo treinados por cientistas russos a fim de que embarquem para Marte até final de 2017. O treinamento visa forçá-los a executar diversos comandos da espaçonave. Em troca das tarefas que executam eles recebem alguma comida. Se não cumprem com as ordens simplesmente não comem. Foram selecionados os macacos que se mostraram com uma maior capacidade cognitiva e rapidez de aprendizado. Devem passar longos seis meses no espaço presos em cabines de comando – tempo necessário para se chegar a Marte. No vídeo divulgado pela Academia Russa de Ciência é possível ver o tratamento que esses primatas recebem sendo empurrados para dentro de minúsculas gaiolas frias após os cansativos treinos.

Não há mais nada o que se fazer na lua e os recursos que permitem a vida na Terra estão esgotando. Cresce então uma euforia para a colonização de Marte, que deve se dar por volta de 2025 – um planeta com água, montanhas e que, provavelmente, poderá abrigar vida (se é que já não abriga criaturas sequer perceptíveis aos nossos olhos).

Assim recomeça a triste escravidão de macacos “astronautas”. A exploração de Marte, embora com equipamentos bem mais sofisticados que os usados na corrida espacial do século passado, ainda mantém um pé no passado e imita o mesmo processo da conquista da lua, quando vários animais foram lançados ao espaço completamente imobilizados e aterrorizados, muitas vezes com eletrodos fincados no cérebro. Aos que não morreram restou, depois de uma traumatizante viagem, passar a vida em zoológicos.

Os animais são cobaias nesse campo desde da década de 40. Chimpanzés e macacos Rhesus são as maiores vítimas devido sua semelhante com os seres humanos, mas muitos cães já foram usados, principalmente pela Rússia, entre as décadas de 50 e 60.

Laika, o primeiro ser vivo lançado ao espaço. Foto: Divulgação
Laika, o primeiro ser vivo lançado ao espaço. Foto: Divulgação

A triste história de Laika
Apesar de toda a preparação, Laika morreu devido a uma combinação de superaquecimento e pânico, segundo matéria do portal Terra de 2012. Em abril de 1958, após 162 dias em órbita, a Sputnik 2 se desintegrou na reentrada na atmosfera, mas segundo informações divulgadas apenas em 2002, Laika teria morrido poucas horas depois de sua partida da Terra e não no seu retorno, conforme foi largamente divulgado.

O ex-diretor do programa soviético para envio de animais ao espaço nos anos 50, Oleg Gazenlo, disse se arrepender de ter enviado Laika ao espaço, pois eles haviam condenado a cadela a uma morte certa. A cadela tinha eletrodos para monitorar seus sinais vitais. Os dados da telemetria mostraram que ela estava agitada, mas comia a ração. No entanto, os soviéticos nunca planejaram trazer Laika de volta. Eles providenciaram oxigênio suficiente para ela viver por angustiantes 10 dias.

A verdade sobre quanto tempo ela sobreviveu e qual foi a causa da morte só veio à tona em 2002. Dimitri Malashenkov, do Instituto para Problemas Biológicos, em Moscou, afirmou em um congresso nos Estados Unidos que a cadela sobreviveu por poucas horas após o lançamento. Veja matéria completa.

Mais exemplos de animais que foram lançados ao espaço e voltaram vivos ou mortos:

Strelka, Chermuska, Zvezdochka e Belka voltaram vivas do espaço. Foto: Divulgação
Strelka, Chermuska, Zvezdochka e Belka voltaram vivas do espaço. Foto: Divulgação

Cães e Gatos
Dezik e Tsygan – foram as primeiras cadelas a sobrevivem a uma viagem espacial em 1951. Dezik foi submetida a um novo vôo no mesmo ano e morreu na operação. Tsygan foi adotada logo depois do acidente por um físico

Bars e Lusichka – as duas cadelinhas morreram durante o lançamento de um foguete russo em 1960

Belka e Strelka – a bordo do Sputinik 5 voaram junto com 40 camundongos em 1960. Sobreviveram. Strelka teve seis filhotes sendo um entregue ao presidente Kennedy

Pchelka e Mushka – morreram dentro do Sputinik 6 em 1960

Chernushka e Zvezdochka – em 1961 a cadelinha Chermuska sobreviveu dentro do Sputinik 9 na companhia de ratos e um porco da Guiné. No mesmo ano Zvezdochka também voltou de um vôo com vida

Verterok e Ugolyok – essa dupla canina foi a que ficou mais tempo no espaço ou um total de 22 dias e sobreviveu, em 1966

Felix escapou da missão e Felicette voltou com vida. Foto: Divulgação
Felix escapou da missão e Felicette voltou com vida. Foto: Divulgação

Felix – em 1963 Felix era um gato malhado que vivia sossegado nas ruas de Paris (França) até sua captura para o programa espacial CERMA (Centre d’Etudes et de Recherches de Médecine Aérospatiale). Nele foram introduzidos eletrodos diretamente no cérebro para medir impulsos neurológicos durante o vôo. No entanto, na época foi divulgado, por fontes não oficiais, que Felix conseguiu escapar (ou teve ajuda para isso) e a gatinha Felicette, preta e branca, assumiu seu lugar. Ela retornou com vida e outros gatos, ratos e macacos foram enviados ao espaço pelo CERMA

Macacos
Yorick – em 1951 foi o primeiro macaco a sobreviver a um vôo espacial que partiu do México

Patrícia e Mike – macacos filipinos que retornaram do espaço com vida em 1952. Patrícia morreu dois anos depois de causas naturais e Mike em 1967 no zoológico onde passou a viver nos EUA

Gordo – macaco-esquilo lançado ao espaço pelos EUA em 1958. Na volta à Terra naufragou no mar

Sam – em 1966 esse macaco Rhesus participou do programa americano Little Joe criado para testar efeitos das altas acelerações. Voltou com vida e, no retorno, abraçou entusiasmado sua companheira de laboratório, Miss Sam, que também participou de testes espaciais

Ham – chimpanzé que em 1961, nos EUA, realizou um vôo considerado de sucesso e que encorajou o envio de astronautas humanos para o espaço. Após o vôo, Ham ganhou o triste castigo de viver em zoológicos. Morreu do coração

O chimpanzé Ham sobreviveu ao vôo, mas passou o resto da vida em zoos. Foto: Divulgação
O chimpanzé Ham sobreviveu ao vôo, mas passou o resto da vida em zoos. Foto: Divulgação

Enos – em 1961, nos EUA, esse chimpanzé fez duas órbitas ao redor da Terra e demonstrou uma inteligência fantástica quando descobriu sozinho como lidar com os comandos que, por um erro técnico, começaram a executar tarefas inversas as programadas. Morreu pouco tempo depois de seu regresso

Homenagem póstuma
A dupla mais famosa a ir para o espaço contou com o macaco aranha batizado de Able e Miss Baker, uma macaca Rhesus. Eles estiveram juntos, em 1959, a bordo de um míssil Júpiter. Ficaram no espaço por 15 minutos. Voltaram com vida, mas Able morreu alguns dias depois numa cirurgia para extrair um eletrodo. Miss Baker morreu de insuficiência renal, em 1984, aos 27 anos. Ela passou 25 anos como atração do museu U.S. Space and Rocket Center em Huntsville, Alabama (EUA) e chegou a receber 100 cartas por dia de crianças encantadas com sua história de vida retratada em vários livros infantis. Seu funeral em 1984 contou com mais de 300 pessoas. O corpo de Miss Baker está exposto no Smithsonian Institute, em Washington, na mesma cápsula usada na viagem.

Able morreu ao retornar e Miss Baker passou 25 anos como atração de um museu. Foto: Divulgação
Able morreu ao retornar e Miss Baker passou 25 anos como atração de um museu. Foto: Divulgação

Outros bichos
As aranhas Arabella e Anitta foram enviadas à Estação Espacial Skylab, dos EUA, em 1973. As duas morreram a bordo do foguete Saturno V. A Missão Challenger, de 1985, contou com dois macacos-esquilo e 24 ratos albinos que voltaram com vida. A Missão Columbia, de 1998, foi uma imensa arca lotada de animais. Havia 170 ratos recém-nascidos, 229 peixes de aquário, 135 lesmas e uma rata prenha. Saiba mais sobre animais no espaço.

Escravidão em Marte
De acordo com os organizadores do Projeto Mars One, os preparativos para a colonização de Marte iniciam em 2016, quando um satélite e rovers (sondas de Marte) devem explorar o local. Em 2022 serão levados os casulos para abrigar 40 pessoas que serão treinadas na Terra durante oito anos. Somente após exaustivos envios de animais para Marte, em viagens absolutamente agonizantes e sem volta, é que uma tripulação humana, com objetivo de colonização, finalmente enfrentará o desafio de viver fora da Terra e isso deve ocorrer por volta de 2025, segundo a NASA.

O perigo maior, no entanto, é que o homem implante em Marte o mesmo sistema escravagista que domina a Terra transportando para o planeta vermelho animais com o propósito de serem criados para consumo. É bem provável que, depois da implantação das hortas hidropônicas, já previstas no projeto, chegue a vez de vacas, porcos e galinhas serem transportados para dar continuidade a uma eterna escravidão.

O macaco Sam abraçou entusiasmado sua companheira ao retornar da missão. Foto: Divulgação
O macaco Sam abraçou entusiasmado sua companheira ao retornar da missão. Foto: Divulgação

Marte é a grande chance da humanidade de começar uma vida realmente nova, mais ética e justa, sem exploração animal. É a grande chance! Mas se já estão novamente explorando os animais para testar as condições de vida em Marte, será que os colonizadores humanos deixarão para trás o passado de domínio de outras espécies animais?

Se levarmos em consideração seu histórico, o homem tende a escravizar qualquer criatura viva que possa ser encontrada em Marte, originária do planeta e que, por ventura, seja indefesa ou de natureza pacífica. Marte corre o risco de se tornar uma Terra II onde reinará a exploração dos mais fracos pelos mais fortes. Foi assim com os povos indígenas e africanos. Foi assim desde os primórdios da nossa existência com todas as demais espécies animais. Todas. Não há na Terra nenhuma espécie animal totalmente livre da exploração humana, seja no fundo do mar, na terra ou nos pontos mais altos do planeta.

Uma hora a Terra pode mesmo se tornar inabitável por consequências climáticas, destruição praticada pelo homem ou por se encontrar na rota de uma estrela gigante, duas ou três vezes maior que o planeta. Portanto, buscar condições de vida em outros planetas, desde que respeitando as criaturas que por ventura lá vivam, é compreensível e válido. Mas será que o homem vai desfrutar dessa grande oportunidade criando um mundo melhor ou construirá outro cenário de horror para toda e qualquer espécie animal que não seja a humana? O certo seria que desde já fossem iniciadas campanhas contra a exploração animal para a colonização de Marte. Caso contrário já sabemos o final dessa história.

É permitida a reprodução total ou parcial desta matéria desde que citada a fonte (ANDA) com o link. Assim você valoriza o trabalho da equipe ANDA formada por jornalistas e profissionais de diversas áreas engajados na causa animal e contribui para um mundo melhor e mais justo.

Você viu?

Ir para o topo