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Gatos e gestantes podem conviver em paz

20 de maio de 2016
4 min. de leitura
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Nunca vi um animal doméstico tão estigmatizado quanto o gato. Não só ele é classificado como interesseiro e azarento por muita gente mal informada, como é protagonista de uma musiquinha infantil bem infeliz, que instiga a violência nas crianças, e pior: é acusado de transmissor de doença. Estou falando da toxoplasmose, doença que o gato pode transmitir para gestantes.
Se você é amante dos gatos, está grávida e com dúvidas, a Dra. Tatiani Camargo, especialista em felinos, do Vet Quality Centro Veterinário 24h, em São Paulo, explica mais sobre isso.
Samira Menezes: Dra.Tatiani, o que é a toxoplasmose?
Tatiani Camargo: É uma doença sistêmica causada pelo protozoário Toxoplasma gondii, parasita que o gato doméstico tem como seu hospedeiro definitivo.
SM: O que ela causa?
TC: A maior parte das infecções causadas por esse problema é assintomática ou passa por uma gripe branda. Contudo, quando há um comprometimento imunológico, a doença pode se agravar para quadros mais graves, com acometimento neuro e oftalmológico. Em gestantes que contraem a infecção primária, o parasita pode atravessar a placenta e infectar o feto, ocasionando neste último graves alterações neurológicas ou até o abortamento.
SM: E os gatos com isso?
TC: Os gatos são os únicos que excretam, nas fezes, a forma contaminante do parasita.
SM: Só eles transmitem essa doença?
TC: Não, a maior parte da infecção de humanos é devido ao consumo de carne de animais infectados quando consumida pouco cozida ou em alimento que tenha sofrido contaminação de carne crua, sendo a carne suína, ovina, caprina e de aves a principal fonte de infecção.
SM: Então, é seguro para uma gestante ter gato em casa?
TC: Sim. As fezes dos gatos necessitam de aproximadamente 24-72 horas em temperatura ambiente para se tornarem infecciosas. Ou seja, a remoção diária e o descarte apropriado das fezes da caixa sanitária do gato impedirão o desenvolvimento do estágio infeccioso e a ocorrência da doença mesmo se estiverem sendo eliminados oocistos, o que pode ocorrer apenas por 3 semanas após a infecção primária do felino.
Assim, desde que haja bom senso e cuidados com higiene, a chance de infecção da mãe gestante é praticamente nula. Ainda contribui para isso o fato de o gato se limpar constantemente, impedindo que o oocisto tenha tempo de se tornar infectante. Dessa forma, é possível afirmar que é perfeitamente seguro que uma gestante possua um gato de estimação, no que tange a contaminação pelo Toxoplasma.
SM: Quais outros cuidados a gestante deve tomar?
TC: A chance de infecção é sabidamente ínfima, sendo o consumo de alimentos contaminados um fator de risco muito mais significativo. Recomenda-se, por excesso de cautela, que a gestante evite o contato com as fezes dos gatos, deixando essa tarefa para outra pessoa. Contudo, se não houver essa possibilidade, basta que ela use luvas, troque a caixa mais de uma vez por dia e lave as mãos de maneira rigorosa após a manipulação do gato ou de qualquer coisa potencialmente contaminada pelas suas fezes.
Outras formas de a gestante prevenir a doença consistem em evitar contato com o solo, por conta da possibilidade de contaminação. Luvas devem ser utilizadas para lidar com horticultura e vegetais devem ser rigorosamente lavados. Se tiver de manipular carne crua, a gestante deve ser meticulosa quanto a limpeza de suas mãos e dos utensílios e superfícies da cozinha, durante e após o preparo.
SM: E em relação ao gato, dá pra evitar que ele se contamine com a toxoplasmose?
TC: Para evitar que seu gato seja infectado pela toxoplasmose é importante que eles sejam sempre alimentados com ração comercial ou com alimentos bem cozidos. Não deve ser fornecida carne crua (independente da espécie de origem), vísceras ou ossos. Ainda, é conveniente que os gatos sejam mantidos dentro de casa, visando impedir que pratiquem caça ou revirem lixos.
Agora que a Dra. Tatiani explicou tudo sobre o assunto, deixo a versão fofa e correta da famosa musiquinha infantil para mamães e papais criarem, desde cedo, crianças mais amorosas com os animais.
Veja abaixo o vídeo do Não atirei o pau no gato:

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