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Despir ou não despir?

13 de janeiro de 2017
2 min. de leitura
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Foto: Arquivo Pessoal / Rita Silva
Foto: Arquivo Pessoal / Rita Silva

Já me despi por esta causa. Uma vez em Portugal e muitas no estrangeiro. Não me arrependo. Não foi nada que me desse gosto fazer, até porque nunca me despiria em público, não por ter algo contra, mas por insegurança pessoal. Sempre disse que se alguma vez o fizesse seria por uma Causa; esta Causa. E fiz. Fi-lo na altura em que despir-se em acções de defesa dos animais não tinha uma conotação sexista, nem sequer era visto como algo de “corpo”, fosse este masculino ou feminino. Na altura, chamava a atenção pelo choque que provocava. Era algo grave, sério, forte, impactante. Depois, foi-se tornando banal, foi-se tornando – em muitos casos (em alguns de forma propositada e em outros não) -, apenas o despir por despir.
Não condeno quem o faz, mas já não o faço nem peço às pessoas voluntárias da “minha” ONG para o fazerem. Já não sinto que sirva o propósito inicial e noto que as pessoas a quem queremos educar já não vêem estas acções como algo pesado e sério, mas apenas como “mais uma acção de nus”. Eu, infelizmente, também as vejo assim. Tenho muito respeito pelas/os colegas que as fazem sem qualquer intenção que não seja a melhor, mas acabo por ver sempre os comentários às fotos das acções se centrarem mais nos corpos das/os ativistas e nos elogios aos mesmos, do que propriamente na acção e/ou ao tema de que fala.
Agora dir-me-ão: “mas Rita, funciona! Continuamos a ter cobertura mediática e isso é bom para a Causa”. Funciona sim. Funciona para os media porque o nu público é algo que, não sendo a norma, continua a chamar a atenção. A minha questão é: chamará hoje em dia a atenção para e pela razão certa? Confesso que não sei responder. Deixo a pergunta no ar. Para mim, já não faz sentido.
Compreendo que já tenhamos feito de tudo um pouco, já não há muitas mais ideias e coisas novas para explorarmos, sei disso perfeitamente, mas… ainda assim acho que já passamos dessa fase.
O Movimento de Defesa dos Direitos dos Animais já conquistou o seu lugar na sociedade. Falta-nos normalizar ainda mais aquilo que defendemos e importa não esquecermos que não estamos sós nesta luta. Quero dizer, esta luta está ligada a outras lutas por direitos fundamentais. Se realmente vão optar por esse tipo de evento, então talvez seja uma boa ideia eliminar qualquer tipo de sexismo que ele possa denotar.
Fica o apelo à reflexão…
*Este texto foi escrito em Português de Portugal e sem recurso ao novo AO.
 
 

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