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A degola

9 de outubro de 2015
2 min. de leitura
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Todo país parece civilizado ou ético porque sua forma de degola de animais está velada aos olhos dos consumidores. Mas, quando puxamos os véus, todos os povos ainda têm a cor do horror sanguinolento da crueldade contra os animais não humanos, estampada em suas faces.
Matamos, aqui no Brasil, seis bilhões de indivíduos por ano. Todos apunhalados ou degolados em câmaras secretas, bem longe dos olhos do público que os consumirá em seguida. Para que o sangue desses seis bilhões de animais escoe e não fique escurecendo a carne, envenenando-a, é preciso apunhalar ou degolar o animal. E o freguês, atendendo apenas ao próprio gosto e indiferente ao jorro e escoamento do sangue dos outros, preserva seu próprio sangue pulsando vivo por todo seu corpo.
A chacina das baleias a céu aberto, no Japão ou na Noruega, no Canadá ou seja lá em qual país for, não ganha, em derramamento de sangue, da praticada em câmaras fechadas, com sistema de escoamento de sangue de modo a que olhar algum consumidor o veja. Ela apenas acresce mais litros de sangue derramado em águas abertas. Um bovino abatido para bife tem em média 12 a 15 kg de sangue. Matamos mais de 34 milhões de bovinos por ano aqui no Brasil, o equivalente a 400 a 500 milhões de kg de sangue derramados às escondidas, algo que não choca o comedor de carnes, como pode chocar ver as águas do mar tingidas de vermelho do sangue das baleias. E, do ponto de vista ético, é tão brutal assassinar uma baleia quanto o é assassinar um boi ou um porco.
Querem imaginar o que seja uns 10 bilhões de litros de sangue derramados todos os anos pelo abate no Brasil? Quantos Maracanãs seriam necessários para conter todo esse sangue derramado?
Se não vai por bem, vai aos trambolhões? Quando me perguntam se creio que um dia o mundo vai se tornar vegano, penso em duas possibilidades: a primeira, belíssima, seria todo ser humano olhar para qualquer animal e ver-se ali representado, abolindo o que implica em forçar esse animal a nascer, manter esse animal preso e sem chance de viver plenamente seu espírito específico e matar esse animal para comer, ou servir-se de qualquer coisa, extraída do seu corpo ainda vivo; a segunda, catastrófica, seria uma peste geral afetando a população humana em tal magnitude que vire crime criar animais para o abate.
Os humanos não fazem viradas éticas por nada. Precisam de algum motivo forte, às vezes, de “força maior” para entender que estão atolados até o gogó numa moralidade obsoleta, que é preciso abolir qualquer criação e matança de animais, não para proteger os humanos da morte, mas exatamente para proteger da morte todo animal condenado ao abate pelos humanos.

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