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O anti-humanismo de muitos "vegans" como equivalente humano ao especismo

16 de setembro de 2015
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Tem ganhado visibilidade uma categoria um tanto inconveniente, incoerente e contraditória de “vegans” (sic nas aspas). São aqueles que dizem respeitar os animais não humanos e pautam seus hábitos de consumo nessa consideração moral, mas dedicam opiniões conservadoras e preconceituosas a questões de Direitos Humanos e lutas sociais. Às vezes essas pessoas chegam a expressar ódio explícito contra movimentos de emancipação humana e minorias políticas. Não sabem que estão promovendo, do alto desse anti-humanismo, uma atitude tão antiética, reprovável e prejudicial para seres sencientes quanto o próprio especismo.
Essa postura anti-humanista é o reverso quase perfeito do especismo. Trata muitos seres humanos com uma desconsideração antiética parecida com a forma como os especistas tratam os não humanos. É o que baseia a atitude dos adeptos do “Prefiro bicho a gente” e de quem padece de pena de um gatinho abandonado mas vira o rosto e muda de calçada quando se depara com uma criança negra pedinte.
Não é um especismo reverso propriamente dito, já que não inferioriza seres humanos especificamente por serem da espécie humana. Mas carrega um ódio misantrópico similar ao do que viria a ser o especismo investido. Promove opressão, discriminação e exclusão moral contra muitos humanos em função não de espécie, mas sim de (identidade de) gênero, raça, orientação sexual, classe, nacionalidade e origem regional, (ir)religião etc. Mas tem efeitos bem parecidos do que um hipotético especismo inverso de humanos contra humanos.
Manifesta-se, por exemplo, quando o mesmo “vegano” que vai à avenida central da cidade no sábado fazer divulgação pró-veganismo passa a noite do domingo despejando na internet postagens e comentários misóginos, homo-lesbofóbicos, transfóbicos e/ou de ódio militarista contra “vagabundos”, “esquerdopatas” e mulheres que abortaram.
Também ocorre quando a “vegana” dedica seu estilo de vida e consumo ao respeito pelos animais não humanos, mas muda de postura perante outros seres humanos dedicando-lhes racismo, xenofobia, intolerância religiosa, elitismo e simpatia com o fascismo, o apartheid contra pobres e o fundamentalismo cristão.
Outro exemplo é de quem defende não o fim dos testes em animais, mas sim que eles passem a ser promovidos em presidiários ao invés de cobaias não humanas, e acredita que ódio contra onívoros e protovegetarianos é uma maneira mais “adequada” de enfrentar o especismo do que a conscientização com tolerância.
Sendo praticado por muitos “vegans” de direita, o anti-humanismo viola todos os princípios éticos dos Direitos Animais. Essas pessoas esquecem que o vegano-abolicionismo defende, entre seus princípios, a nivelação moral de animais humanos e não humanos por cima, a alteridade empática – acompanhada, segundo muitas pessoas, pela compaixão –, a conscientização ética de cada vez mais pessoas, o enfrentamento de opressões resultantes da inferiorização moral imposta a parte dos seres sencientes, a oposição à cultura de violência e dominação de uns sobre os outros e às tradições nela baseadas, a contestação de hierarquias morais, o respeito aos direitos e liberdades dos indivíduos e a problematização de violências simbólicas que mantêm acesas na cultura a “superioridade” de uns e a “inferioridade” de outros.
Os “vegans” anti-humanistas, quando defendem uma visão de mundo reacionária, autoritária, hierarquista, discriminatória e truculentamente violenta, estão transgredindo todas essas características do abolicionismo animal. Com isso, não diferem em praticamente nada dos mais cruéis especistas, havendo como únicas diferenças notáveis a espécie dos sujeitos destratados e os motivos desse destrato.
Revela-se cada vez mais necessário, quando pensamos nessa categoria de autodenominados “vegans”, que o antiespecismo esteja sempre acompanhado do zelo, ou no mínimo do respeito, aos Direitos Humanos e às lutas em prol da emancipação sociopolítica humana. As opressões contra humanos e contra animais não humanos não são menos nocivas uma do que a outra. E fica claro aqui que libertação animal sem libertação humana não só não faz nenhum sentido como tende a desempoderar, tornar sem efeito, a defesa dos Direitos Animais.

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