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Milhões de cavalos-marinhos são mortos todos os anos pela medicina e turismo

29 de abril de 2017
5 min. de leitura
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Redação ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais

Foto: Gary Stokes/Sea Shepherd Global

Gary Stokes está acostumado a ver animais marinhos em lojas de Hong Kong. Há barbatanas de tubarões mortos, pepinos-do mar-mortos, estrelas-do-mar mortas. Tudo isso perturba o ativista, mas ele se sente particularmente angustiado quando encontra sacos com cavalos-marinhos secos.

“As lojas de medicina tradicional chinesa estão repletas de sacos de quase tudo dos oceanos, mas os cavalos-marinhos certamente fazem parte disso”, diz Stokes, diretor da Sea Shepherd Global para o sudeste da Ásia.

“Quando você faz um mergulho, consegue ver um cavalo-marinho e o fotógrafo enlouquece, mas aqui você os vê em sacos plásticos transparentes, com 100 em cada um. É a morte ao seu redor “, acrescenta.

Foto: Gary Stokes/Sea Shepherd Global

Na China continental, Stokes visitou uma loja que vendia apenas cavalos-marinhos. Ele calcula que havia centenas de milhares – se não milhões – de cavalos-marinhos mortos no estabelecimento.

“Eles são muito pequenos. Imagine encher uma mercearia – quantos você colocaria lá? Se imaginar uma loja com talvez 8 x 8 metros e eles empilhados em todas as prateleiras, o volume é estarrecedor “, aponta.

Foto: Gary Stokes/Sea Shepherd Global

Stokes tem bons motivos para se preocupar. Há mais de 40 espécies de cavalo-marinho e a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) lista muitas deles como “ameaçadas” ou “em perigo”. Não há dados suficientes sobre algumas espécies para que os cientistas avaliem seu status de proteção.

Apesar da situação vulnerável dos cavalos-marinhos, as pessoas arrancam milhões deles do oceano a cada ano para usá-los na medicina tradicional, vendê-los no comércio de aquários ou até mesmo utilizá-los como ornamentos ou souvenires turísticos.

Não são apenas alguns milhões de animais perdidos – são dezenas de milhões, de acordo com Amanda Vincent, bióloga marinha e diretora do Projeto Seahorse.

Foto: Gary Stokes/Sea Shepherd Global

“Não existem dados oficiais sobre pescaria de cavalos-marinhos, mas devido ao nosso trabalho de campo, pensamos em apenas 21 países que pudemos avaliar, em torno de 37 milhões são removidos da natureza anualmente. Esse número pode ser muito subestimado”, diz Vincent ao The Dodo.

O que é ainda mais assombroso e é que a maioria das espécies de cavalos-marinhos está protegida pela Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Extinção (CITES), que restringe o comércio e a venda destes animais. No entanto, essas proibições não parecem estar fazendo muito por eles, observa Strokes.

Foto: Gary Stokes/Sea Shepherd Global

“Eles são proibidos, então como é que temos sacos e deles apenas nas lojas aqui [em Hong Kong]?” questiona.
Para piorar, os animais capturados não são os únicos afetados, explica Vincent. Quando as pessoas arrancam os cavalos-marinhos da natureza, as suas famílias são perturbadas também.

“Muitos peixes saem em grande número dos oceanos e, em alguns casos, as populações selvagens podem lidar [melhor] com isso. Porém, os cavalos-marinhos, possuem uma forma muito elaborada de laços parentais e um sistema social muito estruturado”, destaca.

Foto: Gary Stokes/Sea Shepherd Global

Uma das características mais interessantes sobre cavalos-marinhos é que os machos carregam os bebês.
“A fêmea transfere ovos para a bolsa do macho e os ovos são fertilizados. Então eles [os machos] passam por uma elaborada gravidez, fornecendo comida. nutrição e controle térmico e, eventualmente, o macho entra em trabalho de parto”, esclarece Vincent.

Os cavalos-marinhos não são apenas bons pais, mas também bons parceiros.

“Na maioria das espécies, os machos e fêmeas  têm vínculos permanentes e se reúnem diariamente por períodos prolongados. Assim que o macho dá à luz, a fêmea está pronta com mais ovos e eles se acasalam”, diz Vincent.

Foto: Gary Stokes/Sea Shepherd Global

A medicina tradicional e o comércio da indústria de aquários não são os únicos que prejudicam as famílias de cavalos-marinhos. Eles também são inadvertidamente capturados com certas ferramentas de pesca.

“A grande maioria é capturada com equipamentos de pesca não seletivos, como redes de arrasto e de cerco. Por isso, proibir a exportação não significa que eles permaneçam na natureza, estamos tentando lidar com a remoção dos equipamentos”, acrescenta.

Foto: Shutterstock

Apesar do desafio, Vincent permanece otimista. Ela espera que mais pessoas aprendam a proteger os cavalos-marinhos e os oceanos.

“Os cavalos-marinhos estão em perigo e espero que possam ser bons contadores de histórias para todas as espécies pequenas e obscuras às quais ninguém presta muita atenção. Acredito que todos devemos ter uma responsabilidade e nos envolver com o oceano e dialogar muito sobre isso. Pode ser difícil porque a maioria das pessoas pensa no oceano como uma piscina de água, mas ele é repleto da vida mais extraordinária e cavalos-marinhos são parte dessa maravilha”, conclui.

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