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Walmart é alvo de críticas após vender caminhão matadouro de brinquedo

27 de novembro de 2015
6 min. de leitura
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Redação ANDA – Agência de Notícias de Direitos Humanos

Estes porquinhos tem que chegar ao mercado de alguma forma. E que melhor maneira de levá-los lá do que com seu próprio caminhão matadouro? Essa é a ideia vendida para crianças pelo Walmart.

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Claro, é um brinquedo. Mas a ideia tratar a morte de animais como uma brincadeira de criança não está sendo bem vista por ativistas pelos direitos animais. Grupos estão usando redes sociais e uma petição online para pedir que a rede varejista pare de comercializar uma réplica de caminhão matadouro de brinquedo. As informações são do The Dodo.

“Um transporte em um caminhão matadouro não é um deleite ou uma brincadeira”, escreveu Susan Schindler de New Jersey, uma dos mais de 4.000 pessoas que assinaram a petição. “A realidade é uma violência. Sou contra a dessensibilização de crianças.”

Com cerca de 11.500 lojas em todo o mundo, o Walmart certamente exerce alguma influência sobre o que as crianças vão querer ganhar nesta época natalícia.

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“Um caminhão matadouro não deve ser aprovado como um brinquedo”, escreveu Brittany Sawyer de Virginia sobre a petição. “Não é divertido, não é puro, não é algo que eu quero que meus filhos gostam de brincar ou achem natural.”

O Walmart ainda não se pronunciou sobre as críticas.

Petição reúne 8.000 assinaturas

Uma ativista vegana de Toronto começou uma petição online no site Change.org, pedindo ao CEO da Walmart que pare de vender o item. A petição declara, “Normalizar a escravização e assassinato de animais para uma criança não é OK.”

A petição tinha a meta de 10.000 apoiadores e gerou mais de 8.000 assinaturas em três dias.

Tok & Stok e apologia a zoológicos e fazendas no Brasil

A conhecida loja de móveis e objetos de decoração Tok & Stok está comercializando uma linha de brinquedos educativos que banaliza a exploração animal. Direcionados para crianças que gostam de brincar com carrinhos e/ou animais, os produtos aparentemente inocentes estimulam o desrespeito e a humilhação.

Ao contrário do que a empresa possa pensar e defender, os brinquedos não educam positivamente. Na verdade é um desserviço para os direitos animais, como também para o processo de formação da personalidade da criança que desde cedo aprende a enxergar de maneira insensível, a cruel e triste realidade dos animais explorados pela sociedade.

Carreta de animais de fazenda vendida na loja (Foto: Tok & Stok)
Carreta de animais de fazenda vendida na loja (Foto: Tok & Stok)

Os brinquedos vendidos pela loja não são educativos e nem são algo “feliz”, quando se conhece os bastidores de zoológicos e fazendas exploradoras – apesar dos sorrisos desenhados nas peças que compõem os três diferentes kits comercializados no site de compras.

O caminhão de madeira (farm carreta) carrega uma ovelha, um bode, uma vaca, um porco, um cavalo e um touro. Todos eles são cruelmente exploradas pela indústria da carne e do entretenimento. Além do caminhão, a loja ainda oferece um zoológico (box zoo) e uma carreta de transporte de animais de zoológico (zoo carretinha) ambos com animais selvagens como elefante, girafa, leão, rinoceronte e até um urso polar.

Da forma como são apresentados, esses brinquedos acendem a discussão sobre o especismo embutido nesse tipo de comercialização. Ao invés de aprenderem a respeitar os animais livres em seus habitats, as crianças interagem com produtos que encorajam o aprisionamento desses seres para o deleite humano.

Vendido para crianças a partir de dois anos, o anúncio do “farm carreta” diz: “Aprender brincando como é ou se chamam os animais é uma das ideias deste kit interativo, presente ideal para deixar ainda mais educativas as brincadeiras dos meninos!” Além de especista, é machista. Um objeto pensado e direcionado a um gênero, como se só os meninos pudessem brincar e aprender com determinado tipo de brinquedo.

A brincadeira na formação das crianças

Há uma grande discussão sobre o papel da brincadeira na infância e na vida de uma pessoa. É nesse período que o ser humano começa a se desenvolver psicologicamente, envolvendo mudanças no seu comportamento e na construção de sua personalidade. A brincadeira ocupa papel fundamental durante a infância. É brincando que a criança aprende a lidar com o mundo.

A doutora em teoria política e filosofia moral Sônia T. Felipe considera que os brinquedos que damos às crianças são como armas para a construção de seus mundos. Segundo ela, muitas vezes oferecemos formas de brincar às crianças sem levar em conta que aquele objeto pode ser um instrumento de opressão.

“O racismo, machismo e especismo não nascem na cabeça da pessoa depois que ela se torna adulta. Não mesmo. Essa forma de desenhar o mundo hierarquizando as vidas, estabelecendo fins para as vidas dos outros, sempre em função dos próprios interesses a serem atendidos, é algo construído desde antes de o bebê humano nascer. Desde a cor das roupas, dos detalhes da decoração, das figuras que irão compor o cenário no qual essa ou esse bebê abrirão pela primeira vez os olhos para olhar algo que não seja o seio da mãe, tudo é matéria formatadora de conceitos, preparando a mente para um mundo cheio de divisórias, de divisões, de cisões, de cizânias, um mundo no qual uns manejam a vida dos outros até os exaurirem e em seguida os abatem sem o menor pudor, mas sempre humanitariamente”, explica a professora Sônia Felipe, que também é colunista da ANDA.

A Tok & Stok estimula as crianças a gostarem de zoológicos (Foto: Tok & Stok)
A Tok & Stok estimula as crianças a gostarem de zoológicos (Foto: Tok & Stok)

O professor de filosofia e colunista da ANDA Leon Denis, explica que do ponto de vista pedagógico esse tipo de brinquedo insere na consciência das crianças a ideia de que os animais foram feitos para serem explorados. “Isto naturaliza uma relação especista do humano com o não humano desde a mais tenra idade. Quando vemos crianças praticando maus-tratos aos animais, uma hipótese já bem difundida é a de que essa criança desde cedo presenciou uma relação violenta com os animais, e dentre essas relações temos o ‘inocente’ processo educativo via um lúdico especista. As crianças aprendem por mimésis, por imitação. Brinquedos que reproduzem essa relação de propriedade ensinam às crianças a verem os animais com um olhar de inferioridade, sem contar que muitos desses brinquedos especistas passam a imagem de que os animais são felizes naquele estado de exploração”, diz o professor.

Ao se pensar num mundo melhor é necessário fazer um mundo melhor. Isto inclui educar para um mundo verdadeiramente pacífico onde animais humanos e não-humanos tenham seus direitos reconhecidos e respeitados.

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