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Uso de animais vivos no ensino ainda é realidade em universidades brasileiras

26 de junho de 2014
4 min. de leitura
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(da Redação)

Foto: Reprodução Internet
Foto: Reprodução Internet

Embora diversas faculdades no mundo todo já tenham abolido o uso de animais vivos em pesquisas e práticas médicas (vivissecção), essa ainda é uma realidade na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e outros estabelecimentos de ensino no Brasil, que os utilizam em sala de aula e em pesquisas sobre o Mal de Parkinson, materiais odontológicos e diabetes, por exemplo.

No curso de medicina da UEPG, são utilizados oito porcos por semana nas disciplinas de técnica operatória e cirurgia experimental no primeiro semestre do terceiro ano. A universidade ainda conta com o biotério, que cria ratos e armazena camundongos, de onde são retirados aproximadamente 90 animais por mês para pesquisas de diversos cursos de graduação.

“Não dá para substituir o animal. Dá para diminuir o número e usar outros meios, mas ainda precisamos dele para juntar todos os dados”, alega o professor de fisiologia e coordenador do biotério, Marcelo Ferro. O veterinário responsável técnico pelo laboratório cirúrgico da UEPG, Leandro Lipinski, concorda e afirma que os porcos têm grande similaridade anatômica com o corpo humano, e que a vivissecção faz parte da construção do conhecimento: “Quando o aluno chega aqui, já estudou anatomia, fisiologia e fez práticas em bonecos que custam R$ 100 mil, mas que têm limitações. Tirar os animais acabaria com o ensino”.

Já a aluna Hanna Schimim discorda. “Existem bonecos na UEPG que poderiam substituir várias práticas, mas ainda não estão em uso porque os professores não tiveram treinamento para utilizá-los”, afirma ela. A estudante fez uso da Lei Estadual no 17442/2012, que no art. 3o sanciona que “as Universidades deverão estipular como facultativa a frequência às práticas nas quais estejam previstas atividades de experimentação animal, sem qualquer prejuízo da avaliação acadêmica do aluno”. Porém, conta que os professores aceitaram que ela não assistisse às aulas, “mas não propuseram nenhuma alternativa viável para o meu aprendizado, além de alegar que o método avaliativo teria que ser feito no suíno de qualquer maneira”.

Muitas universidades já substituíram os animais em salas de aula. Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, por exemplo, tecidos sintéticos e bonecos são utilizados para simulação no treinamento de suturas, pontos e punções vasculares, como conta o professor Brasil Silva Neto, do departamento de cirurgia. “Acreditamos que para o treinamento necessário dos alunos isto seja suficiente, antes que os mesmos tenham contato com pacientes. No último mês, o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) inaugurou um centro de simulação virtual em cirurgia, onde não somente habilidades básicas, mas procedimentos mais avançados podem ser praticados em realidade virtual”.

Marcela Godoy é professora de biologia da UEPG, e discute em sua tese de doutorado a utilização de animais no ensino e na pesquisa científica. “Quando o professor começa a ler e pesquisar sobre o assunto (se atualizar) ele vê que há muitas alternativas. Mas às vezes alguns têm seu conhecimento muito limitado. Aprenderam daquele jeito e só sabem fazer daquele jeito”, afirma ela, que acredita que “todas as justificativas vindas de quem utiliza animais no ensino ou defende essa prática, têm um forte apelo à Ética. Fala-se de ética como sinônimo de conduta correta. Não se fala em qual modelo de ética se segue”.

Após as experiências os animais são mortos. A técnica utilizada depende do que o pesquisador fez. Antigamente usava-se éter, mas por causar dor e incômodo, foi abolido: geralmente o excesso de anestésicos é a principal forma de matar o animal, que tem as partes da carcaça que não serão mais utilizadas guardadas em freezer até a coleta de lixo biológico – alguns órgãos e tecidos são congelados e reutilizados.

Outra universidade que utiliza animais vivos é a Universidade Federal do Paraná (UFPR), que recentemente fez aquisição de suínos vivos destinados às aulas práticas de cirurgia do curso de medicina, segundo publicado no Compras Net no dia 05 de março de 2014. Compras Net é um portal eletrônico de compras do governo. O pedido indica: “Itens de Material – Animal Vivo – Leitões vivos, com peso variando entre 12 a 15 kg, machos ou fêmeas, higienizados previamente, que estejam em jejum de 12 horas, em perfeito estado de saúde e com orelhas em bom estado de conservação.”

O uso de animais vivos divide opiniões no mundo todo. Enquanto alguns pesquisadores insistem em defender a prática para o bem estar humano, outros garantem que já há substituições ainda mais eficazes. “Não se aprende cirurgia através de operações em animais”, afirma o professor Bruno Fedi, diretor do Instituto de Anatomia Patológica do Hospital Geral de Terni, na Itália, no livro “A verdadeira face da experimentação animal”, de Thales Tréz e Sérgio Greif. “Animais são completamente diferentes do homem anatomicamente, em suas reações, estrutura e resistência. O estudo em animais confunde o cirurgião”, garante.

Para maiores informações leia Promovendo a Substituição do Uso de Animais no Ensino Superior, estudo de Thales Tréz; Alternativas ao Uso de Animais Vivos na Educação, livro de Sérgio Greif; e veja o guia que indica quais universidades utilizam animais vivos.

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Fonte: Jornal Foca Livre do mês de maio de 2014. Publicação mensal dos alunos do curso de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), por Millena Sartori.

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