EnglishEspañolPortuguês

Um país unido para salvar a rara borboleta-azul

25 de outubro de 2009
4 min. de leitura
A-
A+

Todos os verões, grupos de jovens voluntários portugueses e estrangeiros trocam alguns dias das suas férias por trabalho na natureza, no Parque Natural do Alvão. Objetivo: salvar a borboleta-azul, uma espécie tão rara como exótica, que para sobreviver precisa das flores de genciana  e de uma determinada espécie de formiga, em cujo formigueiro vive quase um ano.

Foto: Reprodução DN
Foto: Reprodução DN

A borboleta-azul está em risco de extinção em vários países europeus. Em Portugal, é considerada em perigo desde 1994. A sua maior colônia pode ser observada no Parque Natural do Alvão, mas infelizmente algumas da suas populações reduziram-se drasticamente nas últimas décadas. Com um papel importante no ecossistema, o estudo da Maculinea alcon tornou-se uma prioridade. É que não se conhece ao certo o número de populações existentes em Portugal.

“Neste momento estamos trabalhando com quatro colônias, menos de metade das que existiam há uns anos. Três delas são muito pequenas e a maior, este ano com cerca de 4 mil indivíduos em fase adulta, está instalada em Lamas de Olo”, refere Paula Seixas, entomóloga da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

No Norte, vivem essencialmente em lameiros, prados permanentes de vegetação herbácea que se situam nas proximidades de zonas de água. A zona onde reside a maior população da espécie tem sido estudada há quatro anos. “Os resultados são animadores, verificou-se um aumento no número de indivíduos, desde o primeiro ano”, diz a entomóloga.

As curiosas características do ciclo de vida da borboleta-azul são um dos principais fatores que a torna tão sensível. Depende da genciana (Gentiana pneumonanthe), que lhe serve de planta hospedeira para os primeiros tempos de vida; depois, já em fase larvar, é “adotada” pelo gênero de formigas Myrmica, em cujos formigueiros vive quase um ano. Sai adulta, reproduz-se e… vive apenas cinco a sete dias.

Henrique Pereira, biólogo do Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade, Departamento de Gestão de Áreas Classificadas do Norte, explica que “quando se alteram as utilidades dos terrenos agrícolas, vai também haver mudança na biodiversidade das espécies de fauna e flora. Se os agricultores abandonam os lameiros começa a haver concorrência entre as herbáceas, e plantas como a genciana passam a ter dificuldade em se desenvolver. E a borboleta-azul fica em risco”.

Mas, por outro lado, a presença humana tornar-se um problema. “Quando começam a surgir construções, que vão degradar zonas ideais para o desenvolvimento da planta hospedeira e dos formigueiros”, salienta o biólogo.

Os ninhos de formigas podem mudar de local todos os anos, já que apenas se estabelecem em zonas com sol e umidade, sendo que o processo de adoção das larvas também só funciona com algumas espécies do gênero Myrmica. Em Lamas de Olo, foi descoberta recentemente mais uma espécie de formiga do gênero com capacidade hospedeira. Segundo Paula Seixas, “registramos a presença da Maculinea alcon dentro dos formigueiros de uma espécie que não era conhecida na Europa como hospedeira, o que é um dado novo e importante do ponto de vista da ciência e investigação e estamos agora trabalhando nele”.

Esta complexa relação borboleta-azul, genciana e formiga, que tem colocado a espécie numa situação precária, vem sendo combatida por algumas iniciativas locais. O Parque Natural do Alvão desenvolve atividades de envolvimento de cidadãos na proteção e conservação do patrimônio natural, nomeadamente por meio de organização de campos de voluntariado com escoteiros, universitários ou outras organizações individuais. “Há uma ligação de destaque do Parque ao British Trust for Conservation Volunteers (BTCV) que anualmente coorganiza um campo de voluntariado internacional”.

Durante esses dias trabalham-se algumas iniciativas, desde ações de combate a espécies invasoras, recuperação de áreas degradadas, melhoramento de habitats, até a conservação dos lameiros onde vive a borboleta-azul.

Desde 1993 estes pequenos grupos de voluntários britânicos e de outras nacionalidades trocam alguns dias das suas férias de verão por um trabalho a serviço da Natureza. “Nos finais de junho, antes da floração da genciana e da emergência dos adultos da borboleta-azul, realizamos trabalhos de corte de arbustos e fetos dos lameiros referenciados para a espécie, visando facilitar o voo das borboletas, e as posturas nas flores de genciana”. Em janeiro próximo, está programado o arranque de projetos a cargo da Câmara Municipal de Vila Real cujo investimento é de 1,7 milhão de euros.

Esperamos ter o mesmo sucesso que o Reino Unido, onde a espécie esteve quase extinta, mas foi salva por meio de um plano de recuperação de habitat, que permitiu reverter a situação.

Fonte:  DN Ciência

Você viu?

Ir para o topo