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Unesp testa dispositivo biodegradável para operar cães com catarata em SP

25 de julho de 2014
6 min. de leitura
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Cachorro passa por consulta para identificação de catarata no Hospital Veterinário da Unesp de Jaboticabal (Foto: Fernanda Testa/G1)
Cachorro passa por consulta para identificação de catarata no Hospital Veterinário da Unesp de Jaboticabal (Foto: Fernanda Testa/G1)

Aos 9 anos, Astor passa pela primeira vez na vida por uma consulta oftalmológica. A vermelhidão no olho direito levou o estudante Rodrigo Calminatti Ernesto a procurar um especialista em visão canina. Dessa vez, o diagnóstico do labrador de Ernesto é de uveíte – uma inflamação intraocular – decorrente de outra doença no organismo. Mas a suspeita do tutor era que o cão estivesse com catarata.

Astor foi examinado no Hospital Veterinário da Unesp de Jaboticabal (SP), o mesmo onde a poodle Nara, de 8 anos, recebeu o diagnóstico de que o tutor de Astor suspeitava: a catarata. Ela foi operada com um recurso que vem sendo estudado pelos pesquisadores do departamento de clínica e cirurgia veterinária da universidade, e que pode ser um passo para o sucesso de cirurgias de catarata em cães com idade avançada.

Os pesquisadores Tiago Barbário Lima (esq.) e Ivan Martinez consultam o cão Astor, de 9 anos, para diagnóstico de catarata (Foto: Fernanda Testa/G1)
Os pesquisadores Tiago Barbário Lima (esq.) e Ivan Martinez consultam o cão Astor, de 9 anos, para diagnóstico de catarata (Foto: Fernanda Testa/G1)

O grupo testa a aplicação de um dispositivo biodegradável nos animais, capaz de liberar anti-inflamatórios nos olhos operados. O procedimento, segundo os médicos-veterinários, dispensa o uso de alguns colírios no processo pós-operatório, o que pode auxiliar numa recuperação mais rápida e diminuir os riscos de inflamação ocular nos cães.

De acordo com o professor do departamento, José Luiz Laus, o procedimento adotado nas cirurgias de catarata em cães é o mesmo utilizado em humanos. A técnica, conhecida como facoemulsificação, consiste na retirada da “lente” que se forma no cristalino e na aplicação de uma lente acrílica nos olhos do paciente. A grande diferença, no entanto, consiste no processo pós-operatório.

“O olho do cão inflama de 10 a 15 vezes mais que o olho do homem. Essa é a principal razão pela qual ainda não conseguimos o mesmo índice de sucesso que se atinge com o olho humano. Se o olho inflama muito, o pós-operatório fica comprometido”, explica.

Para tentar minimizar o problema, os pesquisadores tomaram a iniciativa de implantar um microdispositivo nos olhos do animal. O aparelho, testado e desenvolvido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é feito de material biodegradável e absorvido pelo organismo do animal, ao mesmo tempo em que libera anti-inflamatórios dentro do olho do animal.

“A diferença nessa cirurgia é a implantação desse dispositivo de liberação lenta de anti-inflamatórios. A ideia é verificar se com o dispositivo o resultado do pós-operatório é melhor que no método tradicional, inclusive com a diminuição do uso de alguns colírios. Utilizando o dispositivo, controla-se melhor a inflamação e diminuem-se os efeitos colaterais, o que provavelmente deve trazer um resultado melhor”, afirma o cirurgião Tiago Barbário Lima, doutorando na universidade e autor da pesquisa.

Diagnóstico e seleção

Os principais sintomas da catarata em cães, de acordo com o pesquisador, são olhos esbranquiçados e problemas com equilíbrio. “É perceptível que o olho do animal está se tornando branco. O olho fica mais branco durante a noite e menos branco durante o dia. Isso porque durante o dia a pupila está contraída. Como a lente fica atrás da pupila, e à noite ela dilata, a lente fica mais visível. Além disso, o cãozinho começa a esbarrar nas coisas. Ele anda pela casa, bate nos objetos, fica desorientado”, explica.

A universidade está à procura de cães que se enquadrem no perfil da pesquisa para a realização das cirurgias. Segundo Laus, os animais devem ter acima de seis anos – faixa etária na qual ocorrem as cataratas senis, objeto de estudo dos pesquisadores. As consultas são agendadas por telefone e o proprietário recebe orientações sobre os cuidados a serem tomados com o cão no dia da consulta. “É necessário o jejum, por exemplo, para eventuais exames os quais o animal tenha que passar”, afirma.

Os pesquisadores Tiago Barbário Lima (esq.) e Ivan Martinez consultam o cão Astor, de 9 anos, para diagnóstico de catarata (Foto: Fernanda Testa/G1)
Os pesquisadores Tiago Barbário Lima (esq.) e Ivan Martinez consultam o cão Astor, de 9 anos, para diagnóstico de catarata (Foto: Fernanda Testa/G1)

Foi exatamente a cor dos olhos da poodle Nara, de 8 anos, que chamou a atenção de seu tutor, o supervisor de segurança Rogério Portella Camargo, de Barretos (SP). Ele conta que a cadela foi diagnosticada com a doença aos três anos, mas que o alto custo da cirurgia em clínicas particulares o impedia de pagar pelo procedimento. Em 2011, no entanto, Camargo soube do trabalho desenvolvido no Hospital Veterinário e resolveu levar a cadela para uma consulta.

Do primeiro atendimento até a série de exames para verificar a possibilidade de realização da cirurgia – procedimento adotado pelo hospital em todos os animais – foram quase três anos. Em maio deste ano, Nara foi finalmente operada, e segue agora em processo de recuperação. “Ela está super alegre, enxergando tudo certinho. Até a gente fica mais feliz. Antes ela batia com a cabeça nos lugares, caía o tempo todo. Estamos tratando com cinco colírios diferentes, e no mês que vem iremos ao último retorno dela. Só tenho que agradecer à atenção e dedicação da equipe do hospital”, afirma.

Depois do procedimento, o animal ainda é acompanhado pelo hospital em consultas de rotina, para que seja verificada a evolução do paciente. “O mais importante é tomar cuidado com as atividades do animal neste período. É preciso atenção do tutor com os riscos de automutilação, uma vez que o animal pode ficar um pouco arredio com o uso do colar pós-cirúrgico no pescoço. O tratamento é feito com aplicação de colírios e medicação via oral.”

Por se tratar de um estudo, os custos da cirurgia chegam a cair de 70% a 80% para o tutor. “No hospital, o preço de uma cirurgia de catarata com a aplicação da lente acrílica nos dois olhos do cão varia de R$ 2,8 mil a R$ 3 mil. Os tutores dos animais incluídos na pesquisa vão gastar de 20% a 30% desse valor. É um custo baixo, visto que em clínicas particulares essa cirurgia custa, no mínimo, R$ 5 mil”, explica Lima, autor da pesquisa.
Os interessados em procurar pelo serviço de oftalmologia do Hospital Veterinário de Jaboticabal devem entram em contato com a unidade e agendar uma consulta pelo telefone (16) 3209-2626.

Fonte: G1

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