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Jornalista envia carta aberta à Presidente de Portugal após toureiros serem condecorados

23 de julho de 2015
3 min. de leitura
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Por Evely Reis (da Redação)

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

A escritora e jornalista portuguesa Isabel A. Ferreira, muita indignada, endereçou uma carta ao Presidente de Portugal, Sr. Aníbal Cavaco Silva que dia 23 de julho em Lisboa, irá agraciar o Grupo de Forcados de Santarém com a Medalha da Ordem do Mérito, normalmente atribuída a quem se distinguiu por atos cívicos ou relevantes para a sociedade.
“É completamente inconcebível ver nesta prática cruel qualquer vislumbre de mérito, por muita imaginação que possamos ter, ou que benefício possa trazer à República Portuguesa, a não ser a desonra”, reafirma Isabel A. Ferreira.
Veja abaixo na íntegra o conteúdo da carta:
Exmo. Senhor Presidente da República,
Professor Doutor Aníbal Cavaco Silva,
Excelência,
Concedo-me o direito e a liberdade de escrever a Vossa Excelência depois de ter tomado conhecimento de que no próximo dia 23 de Julho será entregue a Medalha de Mérito ao Grupo de Forcados Amadores de Santarém.
Como é do conhecimento público, na sua origem a Ordem do Mérito tinha, entre outros, o objectivo de laurear actos de benemerência pública e actos cívicos que se reflectissem no progresso e prosperidade do País.
Foi com inaudita surpresa, pois, que fui informada de que Vossa Excelência ia premiar um grupo de indivíduos que se dedica unicamente a massacrar um animal, naquilo a que chamam “pega”, numa tourada, quando o Touro já está completamente enfraquecido, moribundo, não só pelas hemorragias internas causadas pelas farpas que lhe foram espetadas, mas também por todo o stress provocado pela sua retirada do pasto e o transporte até à arena, e por todo a actuação cruel anterior à intervenção dos forcados.
É completamente inconcebível ver nesta prática cruel qualquer vislumbre de mérito, por muita imaginação que possamos ter, ou que benefício possa trazer à República Portuguesa, a não ser a desonra.
Esta condecoração é, na opinião de todas as pessoas civilizadas e cultas do mundo, uma afronta a quem realmente se dedica ao serviço comunitário, ao avanço do país, e à sua boa imagem.
A indústria tauromáquica já só existe em 8 países dos 193 que existem no Mundo e está, cada vez mais, a ser condenada e repudiada pela opinião pública mundial.
Em 2014, o Comité de Direitos das Crianças da ONU recomendou a Portugal para que tomasse medidas que afastassem as crianças da violência física e psíquica que tal prática representa, contudo, esta recomendação caiu em saco roto, pois existem algumas crianças, em Portugal, que continuam a frequentar os antros de violência tidos como “escolas de toureio”, e a presenciar esta brutalidade e crueldade gratuitas sobre um ser vivo, nas arenas portuguesas, sem que autoridade alguma intervenha.
Os próprios países que ainda mantém a prática tauromáquica estão, aos poucos, a aboli-la, seja estatalmente ou declarando algumas das suas cidades e vilas livres desses exercícios de violência.
Por tudo isto, solicito a Vossa Excelência que reconsidere esta condecoração e que tome em consideração que Portugal, como um país integrado numa Europa que se quer civilizada, deveria dar um bom exemplo e premiar quem dá um contributo educativo e positivo, ao nosso País, em vez de passar a mensagem de que a violência e o derramamento de sangue de seres vivos indefesos e inocentes devem ser recompensados.
Confiando que Vossa Excelência tomará a decisão mais civilizada e pedagógica para que Portugal não seja enxovalhado no mundo moderno e culto, e especialmente para que os mais jovens, se revejam em valores humanos e não em crueldades, e aprendam a respeitar todos os seres, como é da ética e dos bons costumes, despeço-me com todo o respeito.
Isabel A. Ferreira”
*Esta carta foi escrita, originalmente, em português europeu e foi mantida em seus padrões linguísticos e ortográficos, em respeito a nossos leitores.

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