EnglishEspañolPortuguês

Vegano não anda em carroça

23 de março de 2009
3 min. de leitura
A-
A+
Foto: Reprodução/internet

Sabemos da lamentável situação de Porto Alegre, considerada a capital das carroças.

Quem vem da Região Metropolitana, como eu, sabe muito bem que essa realidade é crônica em todo o lugar.

O mais absurdo é a cegueira da população sobre o tema e o blablablá filosófico por parte de pessoas – especialmente estudantes – que romantizam a situação. Pensam mesmo que estamos no século XVIII ou algo parecido, e que as carroças são veículos harmonizados com a paisagem e – pasmem – são até ecológicos!!!

Tais absurdos partem de pessoas que não conhecem a realidade dos carroceiros, que glamorizam achando que todo carroceiro é um coitado vitimizado pela sociedade cruel. Se em parte isso é verdade, em parte não é tão verdade assim. Pois muitas pessoas fazem questão de manter o cavalo, mesmo tendo condições financeiras para comprar um veículo. Falo isso pois morei muitos anos em uma cidade da Região Metropolitana e acompanhei de perto a mentalidade das pessoas de lá. Aqui, na Capital, não é muito diferente. Embora exista uma situação de pobreza e dificuldades, também existem políticas públicas que podem ser aplicadas.

O carroceiro, o catador, não é um símbolo de liberdade como alguns bitolados preferem gritar por aí, é um símbolo de escravidão. Escravizado está o animal, as pessoas que o conduzem, muitas vezes menores, e a sociedade que não reflete sobre o tema. Enquanto os cavalos conduzem carroças pesadas, com famílias inteiras andando em cima, a Prefeitura fecha os olhos, pois é conveniente não ter que dar assistência, não ter que cobrar multa por infrações de trânsito ou aplicar penalidade por haver menores dirigindo. As pessoas não olham, e isso é o mais impressionante. A frieza da população, que só sabe se preocupar com a temperatura, a TV ou o futebol.

Obviamente que os animais ficam em último caso, só são lembrados quando tombam miseravelmente magros, com fome e sede. Quando vemos a cena deplorável do cavalo morto e sangrando, quase nunca lembramos que esta é só a parte visível. Que antes disso ele nasceu e apanhou para ser domado, sofreu a vida inteira e comeu quando dava, bebeu quando podia e descansou quando deixavam.

O pior ainda estou por escrever. Há pessoas, ditas veganas, que se ofendem profundamente com a questão ‘carroças’ – elas são a favor de existirem carroças, pela questão social! Notem que a palavra ‘social’ acaba virando sinônimo de aceitação geral, como se todas as maldades humanas não fossem de caráter ‘social’.

Em Porto Alegre, a questão está na política, graças ao trabalho de bons vereadores e também de grupos que realmente trabalham pelos cavalos, como o Porto Alegre Melhor e o Chicote Nunca Mais.

Os grupos que se dizem defensores dos direitos humanos, curiosamente, não participaram das discussões para as quais foram convidados.

Vegano de verdade não discute essa questão. Animais, sejam eles cavalos ou cachorros, não são objetos de ninguém. Não importa qual foi a nossa organização social, temos que lutar pela liberdade de todos. Os veganos de verdade estarão de olho nas políticas públicas e na lei que proíbe carroças em Porto Alegre, em um prazo de oito anos. Esperamos que as pessoas condutoras de carroças e suas famílias tenham seus direitos resguardados, mas que também tenham deveres, como todo cidadão tem.

E os cavalos, que tanto serviram a essas pessoas, que tenham sua aposentadoria garantida pelo Estado. É o mínimo que podemos fazer por eles, já que quem criou o problema de trazer animais para o uso humano fomos todos nós.

Você viu?

Ir para o topo