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Morador de rua, que vive nas calçadas, abriga cão com casa

21 de julho de 2011
3 min. de leitura
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A rotina de Cabelo e Spyder é idêntica. Dormem lado a lado, acordam no mesmo horário e dividem em partes iguais o que conseguem para comer. São cúmplices e parceiros de uma vida quase miserável nas ruas de Campinas (SP). Mas, na relação entre eles, há uma clara inversão de valores: enquanto Cabelo, o homem, luta para se proteger do frio numa cabana improvisada de cobertores, Spyder, o cão, vive confortavelmente dentro da sua própria casa. “Ele vive melhor que eu”, brinca Cabelo.

Cabelo e Spyder também se assemelham na forma como se comunicam. Ao conversar com o homem, uma regra tem sempre de ser levada em conta: sem nomes completos, sem idade, sem história de família. “Quem vive na rua não tem essas coisas”. O cão, observando o diálogo sem emitir um reles latido, parece não deixar dúvidas de que concorda com o tutor. “Ele é meio desconfiado também. Não gosta de conversa”.

Cabelo vive nas ruas há mais de uma década. Foto: Henrique Nunes/ Especial para o Portal RAC

Com muito tato e paciência, descobre-se que Cabelo vive nas ruas há mais de uma década. Há dois anos e meio, ganhou a companhia de Spyder, um forte e bem cuidado rottweiler. “Foi presente de um amigo. E desde pequeno ele me protege. Ninguém tem coragem de chegar muito perto de mim por causa do Spyder. Assim, consigo dormir com mais tranquilidade”. De fato, o escudeiro apresenta invejável obediência. Só pousou para a foto, por exemplo, quando foi repreendido pelo tutor a parar de avançar sobre o repórter. “Se não tivesse preso, você já tinha levado uma mordida. Ninguém chega assim tão perto”.

A vida não está fácil para Cabelo, Spyder e a companheira Emília. Foto: Henrique Nunes/ Especial para o Portal RAC

Cabelo veio de Osasco a Campinas há um ano em busca de emprego. Não conseguiu nada, mas se recusa a pedir esmolas. “Quem quiser me dar algo, beleza. Pedir eu não peço, não”. Instalados próximo ao Mercado Municipal, no Centro, Cabelo e uma companheira de rua ficam sempre à espreita para ver se conseguem algo para comer nos arredores. E sempre, sem exceção, a parte do cão está garantida. “O Spyder come com a gente”, conta a mulher, magra e sorridente, identificada apenas como Emília. Quando o benefício vem em dinheiro, o destino é sempre o mesmo: cigarros e bebida. “Sem cachaça, morreria de frio”, revela.

A vida não está fácil para Cabelo, Spyder e a companheira Emília. Mas o coração de todos eles é grande. Há dois dias, uma cadela vira-lata se interessou pelo charmoso rotweiller do pedaço. De imediato, ganhou um nome: Neguinha. Pelo visto, eles terão mais uma boca para alimentar daqui para frente.

Fonte: RAC

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