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Cruz Vermelha Portuguesa organiza tourada e lucra com evento

18 de junho de 2011
6 min. de leitura
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Maurício Pereira
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A Cruz Vermelha Portuguesa, delegação do Cadaval, organiza neste dia 19 de junho uma tourada cujas receitas (valor obtido após pagas as despesas com a organização de tal evento), dizem, revertem para a referida delegação.

Apesar de a Cruz Vermelha Portuguesa – Cadaval desmentir tal organização ela poderá ser comprovada no link:

http://www.cm-cadaval.pt/Events/PesquisaEventos.aspx?uid=89278336-2ab1-4b51-bb8c-be010d488a54&cat=0&d=17-06-2011

Já seria inaceitável, hipócrita e demonstrativo de uma total falta de escrúpulos aceitarem dinheiro resultante duma prática que, segundo definição da própria UNESCO:

“A tauromaquia é terrível e venal arte de torturar e matar animais em público, segundo determinadas regras. Traumatiza as crianças e adultos sensíveis. A tourada agrava o estado dos neuróticos atraídos por estes espetáculos. Desnaturaliza a relação entre o homem e o animal, afronta a moral, a educação, a ciência e a cultura.”

Pior ainda é ser a própria Cruz Vermelha Portuguesa – Cadaval a organizar tal evento e com a conivência da direção nacional da Cruz Vermelha que até agora nada fez para anulá-lo.

Efetivamente a Cruz Vermelha Portuguesa – Cadaval poderia optar por concertos de música, amostras de arte, peças de teatro e toda uma série de outros eventos culturais e/ou desportivos éticos, e que até poderiam resultar num maior retorno financeiro, mas prefere ainda assim organizar e promover uma prática absolutamente repugnante para em seguida, tal qual Pôncio Pilatos, lavar as mãos do sangue resultante da tortura de seres sencientes não humanos.

Às constestações apresentadas no mural do Facebook da página Cruz Vermelha Portuguesa – Cadaval por dezenas, se não mesmo centenas de pessoas, algumas até que contribuíram fisica e financeiramente para a Cruz Vermelha Portuguesa, a moderação do mural, numa atitude muito pouco moderada e até mais parecida com o “lápis azul” da censura do estado novo, resolveu apagar todos os comentários, deixando somente os residuais posts de apoio e os posts da própria administração do mural.

Destaca-se, por exemplo, o post do Vice-Presidente da delegação do Cadaval, que afirma:
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“Vou deixar um esclarecimento adicional a quem interessar.

A delegação da Cruz Vermelha do Cadaval, não tomou a iniciativa para fazer esta corrida, ela foi proposta por um grupo de jovens aficionados, que se dispuseram a organizar a corrida e oferecer os possíveis lucros à Cruz Vermelha do Cadaval, esta corrida iria existir na mesma mesmo que não fosse em beneficência da Cruz Vermelha. Dada a necessidade premente de apoios financeiros para ajudar pessoas necessitadas, e embora para a direcção da Cruz Vermelha este não fosse obviamente o espectáculo que escolheríamos para nosso benefício, e a aceitação do mesmo não tenha sido de forma nenhuma pacífica, o que acabou por prevalecer foi os possíveis benefícios que poderiam advir deste evento para os mais necessitados do nosso concelho. É muito fácil ser moralista de barriga cheia, em casa dos papás a jugar em consolas que custam mais do que famílias inteiras têm para comer durante meses. Quem quer que seja que se arroga o direito de ser moralista para com uma instituição com a Cruz Vermelha, devia em primeiro lugar olhar para espelho e perguntar a sim próprio o que é que já fez para minorar o sofrimento dos seus vizinhos que passam fome, do que é que já prescindiu para dar de comer a alguém ou comprar um medicamento que pode fazer a diferença entre a vida e morte de um idoso, de quanto do seu tempo é que já prescindiu para fazer voluntariado, se tiver respondido positivamente a todos estes pontos, então eu reconhece-lhe o direito a criticar esta iniciativa e eventualmente julgar a decisão da Cruz Vermelha, caso contrário, tenham vergonha na cara, peçam uma ficha de inscrição da delegação, façam-se voluntariado e depois na condição e voluntários ou sócios critiquem e arranjem soluções melhores de financiamento, enquanto não fizerem isso tenham vergonha.

João Reis
(Vice-Presidente da CVP Delegação do Cadaval)”

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Para além do rídiculo do post ao usar de comparação de cenários incomparáveis, para além de mentir ao afirmar que o evento não é organizado pela referida delegação (que é de fato conforme ficou comprovado atrás), constata-se que, a somar a tudo isto, o Sr. João Reis (relembre-se vice-presidente da delegação do Cadaval) ainda agride grosseiramente quem se indigna com este evento atirando indiscriminadamente e para onde está virado atingindo inclusive vários voluntários e elementos da sociedade que contribuem e/ou contribuíram para a própria Cruz Vermelha Portuguesa.

Constata-se assim que, além da falta de escrúpulos e ética, a Cruz Vermelha Portuguesa – Cadaval mente, censura e agride.

Tudo com a conivência da direção nacional que, relembre-se, até agora nada fez para se opor a tal evento e responde num post colocado no mural com o seguinte comentário:

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“Em face dos comentários produzidos sobre a Corrida de Touros da Pêra Rocha do Oeste, a realizar dia 19, no Cadaval, esclarece-se que a Delegação do Cadaval da CVP não é organizadora do evento. Os organizadores propuseram-se atribuir um subsídio à Delegação do Cadaval para fins humanitários. A Cruz Vermelha continua fiel aos seus Princípios. http://www.cruzvermelha.pt/movimento/principiosfundamentais.html
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Também a direção nacional da Cruz Vermelha Portuguesa mente, ao afirmar que a organização de tal evento não é da Cruz Vermelha Portuguesa – Cadaval (quando é, como atrás ficou provado) e denigre a sua imagem ao remeter para os seus “Princípios”.

Pergunta-se então: “Quais princípios”?

O de organizar um evento e recolher dinheiro sujo de sangue proveniente duma prática que, como definido pela própria Unesco, consiste em “torturar e matar animais em público”? Tendo a Cruz Vermelha Portuguesa variadíssimas opções?!

Serão esses os princípios?

Solidariedade não coabita com derramamento de sangue de seres sencientes, humanos ou não humanos.

A Cruz Vermelha Portuguesa, ao permitir que a sua delegação do Cadaval organize repugnante evento, optou por não respeitar o princípio mais básico da ética, conforme tão bem definido por Albert Schweitzer:

Ética é a responsabilidade por tudo quanto vive estendida para além de todos os limites”.

A Cruz Vermelha Portuguesa, ao permitir que a delegação do Cadaval organize tal evento, sujará as suas mãos com sangue.

Não com sangue resultante da prática dos seus “Princípios”, mas sim com sangue de “torturar e matar animais em público”.

A Cruz Vermelha Portuguesa, mantendo esta atitude, “afronta a moral, a educação, a ciência e a cultura”.

Colaboro física e financeiramente para algumas associações de cariz humanitário, de cariz ambiental e também de defesa dos direitos dos animais.

Inclusivamente já contribuí muitas vezes para a CVP.

Deixo então o apelo, apesar de saber que cairá em saco roto!

Apelo então para que a Cruz Vermelha Portuguesa anule esta iniciativa e, para além de cancelar a organização deste evento, se exclua da aceitação de quaisquer receitas obtidas de forma desviada, torturante e repugnante como são as touradas.

Existem muitas opções e será lamentável se a Cruz Vermelha Portuguesa não aceitar tal apelo.

Mas como sei que a CVP não anulará esta repugnante iniciativa no futuro e enquanto a CVP apresentar esta postura mentirosa, censuradora, desviada de princípios e ausente de quaisquer escrúpulos como tem demonstrado, seguramente nunca mais contribuirei com e para a CVP.

Prefiro desviar os meus recursos físicos e financeiros, mesmo que parcos, para associações e instituições que efetivamente seguem princípios éticos.

E elas existem, e a fazer um trabalho muito meritório.

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