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Tráfico de marfim está reduzindo manadas de elefantes na África

25 de agosto de 2009
4 min. de leitura
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Jeff Hutchens Reportagem Getty Images
Jeff Hutchens Reportagem Getty Images
Nos últimos meses registrou-se, em vários países africanos, um grande aumento no número de elefantes abatidos por caçadores. Recentemente, as autoridades moçambicanas prenderam dois deles, sendo um de nacionalidade portuguesa.

Num parque nacional no Quênia 19 elefantes foram mortos e 44 feridos – dados que não se registravam desde os anos 80, quando as autoridades quenianas lançaram uma campanha para combater a caça ilegal do marfim. Por outro lado, a polícia de vários países está apreendendo quantidades cada vez maiores de marfim traficado.

Historicamente, no Parque Nacional de Amboseli, no Quênia, os mil e quinhentos elefantes que habitam aquela área protegida sempre viveram sem ser incomodados pelos caçadores clandestinos e pelos traficantes de marfim. Mas, no ano passado, isso mudou. Os elefantes começaram a ser abatidos. Há também muitos elefantes envenenados ou feridos com tiros e com lanças.

Mercado de marfim Foto: Patrick Roberts Corbis
Mercado de marfim Foto: Patrick Roberts Corbis

Não se tratam de atos esporádicos mas sim de operações internacionais ligadas ao tráfico ilegal de marfim. Julius Kipng’etich, o diretor do Serviço de Vida Selvagem do Quênia, aponta o dedo à China. “O problema no Quênia é o mercado interno que foi criado por cidadãos chineses que recebem da própria China pedidos de marfim africano. Noventa por cento de todo o marfim que interceptamos nos nossos aeroportos ou em trânsito de países vizinhos estava sendo transportado por chineses.”

Apreensão de marfim Foto: AP
Apreensão de marfim Foto: AP

Apesar de alguns traficantes presos pelas autoridades quenianas, são as atividades do crime organizado – especialmente na Ásia Oriental – que mostram a verdadeira escala do problema. Não é difícil encontrar jóias em marfim, mesmo na Europa.

Peter Younger, da unidade da Interpol de combate ao crime contra a vida selvagem, diz que a situação começa a tornar-se alarmante. “Em maio deste ano apreendemos 6,3 toneladas de presas de marfim no Vietnã. Cerca de duas semanas mais tarde apreendemos 3 toneladas e meia de marfim nas Filipinas e uma tonelada na Tailândia. Portanto, ao todo, apreendemos cerca de 12 toneladas de presas de marfim num período de seis semanas este ano.” Em outras palavras, isso representa mais de dois mil elefantes mortos.

No Centro de Biologia de Conservação, na Universidade de Washington, na cidade norte-americana de Seattle, Sam Wasser desenvolveu técnicas de DNA para descobrir a área de origem do marfim. Ele compara os dados genéticos de amostras de marfim confiscado a amostras de excrementos de elefantes de áreas conhecidas da África. “Pela primeira vez, isso nos permitiu dizer de onde, na África, vinha uma presa específica de marfim,” disse Wasser.

Carregamento de marfim apreendido  Foto: Divulgação
Carregamento de marfim apreendido Foto: Divulgação

O laboratório ajudou a Interpol a identificar as origens de um carregamento de marfim embarcado nos Camarões e confiscado em Hong Kong. “Tratava-se de uma família de Taiwan que tinha um negócio na cidade camaronesa de Douala e que importava pneus usados do Sudeste Asiático e exportava madeiras. Eles usavam três contentores com fundo falso onde carregavam até três toneladas de marfim. Depois carregavam a madeira e exportavam.”

Ofir Drori, da LAGA, uma ONG que se dedica ao combate ao tráfico de animais selvagens, diz que os tentáculos do tráfico de marfim são muito longos. “Esta operação de tráfico de marfim prolongou-se durante pelo menos dois anos e meio, com o envio para Hong Kong de pelo menos um contentor de dois em dois meses. Isso é incrível, e mostra o nível de criminalidade de que estamos falando.”

Na verdade, os testes de DNA mostraram que o marfim apreendido não era de elefantes dos Camarões mas sim do vizinho Gabão. Mas Ofir Drori acha que lidar com os caçadores clandestinos no terreno é apenas parte da solução. “Na conservação animal, a linguagem continua a ser sobre caçadores clandestinos. Mas esta é uma operação que é controlada por sindicatos do crime. É muito mais difícil chegar aos grandes criminosos, que podem fazer milhões de dólares com as suas negociatas. Não basta que lidemos com os caçadores que estão nas florestas.”

No Parque Nacional de Amboseli, no Quênia, durante a época seca do ano, a maior parte dos elefantes emigra para fora do parque.  A pesquisadora Soila Sayialel admite ter alguns receios em relação ao número de elefantes que não regressará. “Quando todos os elefantes regressarem, se chover em novembro, será triste vermos quem sobrou. Nunca será novamente a mesma coisa.”

Fonte: África 21 Digital

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