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Consumo pode levar tartarugas dos EUA à extinção

6 de agosto de 2009
4 min. de leitura
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Um produto de exportação está em ascensão na balança comercial entre Estados Unidos e China: tartarugas vivas. A cada ano, milhões de tartarugas capturadas na natureza ou criadas em fazendas norte-americanas são devoradas na China, onde a carne de tartaruga, no passado considerada como uma iguaria de luxo, agora se tornou mais acessível às massas.

Os chineses comem tartarugas e usam ingredientes extraídos do animal para produzir medicamentos tradicionais que supostamente melhoram muita coisa – da capacidade imunológica ao desempenho sexual.

Mas alguns norte-americanos estão preocupados com a possibilidade de que a demanda forte leve algumas das espécies de tartarugas de água doce norte-americanas à extinção. É por isso que o Estado da Flórida acaba de aprovar uma nova lei que, para todos os efeitos, põe fim à captura de tartarugas selvagens para fins comerciais. O novo estatuto, que entrará em vigor dia 20 de julho, limita os indivíduos a “uso não comercial” à razão de apenas uma tartaruga ao dia, para a maioria das espécies que vivem no Estado.

Os pântanos, rios e costas da Flórida oferecem habitats ricos para 25 espécies de tartarugas, diversas das quais vêm mostrando declínio em números devido ao uso humano intenso, de acordo com o Fundo de Conservação Natural da Flórida.

Apetite insaciável

imagem da tartaruga marinha em seu habitatOs temores de consumo de tartarugas tomam por base algumas estatísticas preocupantes, afirmam os especialistas. A demanda chinesa já dizimou populações do animal em países como Birmânia, Vietnã e Indonésia, de acordo com a Conservation International, uma organização sem fins lucrativos que promove a conservação.

A União Internacional pela Conservação da Natureza (UICN) estima que 75% das 90 espécies asiáticas de tartarugas de água doce e jabutis estejam hoje sob ameaça. Essa situação levou a um aumento na pressão em lugares nos quais os animais continuam numerosos, entre os quais diversas regiões dos Estados Unidos.

Matthew Aresco, um biólogo radicado na Flórida e membro do grupo de especialistas em tartarugas de água fresca e jabutis da UICN, dedicou mais de uma década ao estudo das tartarugas do Estado. Quedas rápidas e dramáticas no número de tartarugas que vivem na Flórida estimularam a adoção da recente lei, ele declarou. Nos últimos anos, as pessoas que trabalham para o Estado perceberam que a exploração das espécies naturais de tartaruga estava aumentando, diz.

“Por algum tempo, ninguém estava realmente a par da tendência – do fato de que compradores asiáticos estavam vindo à Flórida e que agora existia essa grande alta na demanda”, disse.

Estatísticas básicas mencionadas no anteprojeto de lei de proteção estadual às tartarugas da Flórida apontam que as exportações de tartarugas de água doce capturadas nos Estados Unidos cresceram em 400% entre 2000 e 2004.

Fazendas de tartarugas

Patricia Behnke, da Comissão de Conservação da Fauna e Peixes da Flórida, em Tallahassee, diz que a monitoração das populações de tartarugas é uma tarefa difícil. Mas continuar a explorá-las sem qualquer forma de restrição poderia reduzir severamente as populações desses répteis, ela afirma.

“Acreditávamos que a medida mais conservadora – e a melhor solução para as tartarugas de água doce – fosse proibir a exploração comercial de tartarugas selvagens, e transferir essa função à indústria de criação de animais aquáticos”, ela afirmou.

A criação de tartarugas já se tornou um grande negócio nos Estados Unidos. Cerca de 32 milhões de tartarugas vivas foram exportadas pelo país entre 2003 e 2005, de acordo com um estudo do Fundo Mundial dos Quelônios, um grupo que trabalha pela conservação das tartarugas.

E, desse total, mais de 31 milhões – a vasta maioria das quais da espécie Trachemys scripta elegans – foram exportadas para a Ásia como filhotes. Mas o número de tartarugas capturadas na natureza e exportadas durante o período continua a ser espantoso, de acordo com o estudo – cerca de 700 mil espécimes. E isso representa um golpe especialmente penoso dada a longevidade das tartarugas: a maior parte das espécies da Flórida, por exemplo, demora de sete a 13 anos para atingir a idade de reprodução.

Operação de choque

Criar tartarugas não deixa de apresentar problemas. A maioria dos criadores usa animais recolhidos da natureza para suplementar os estoques de procriação em suas operações, e algumas das criações foram desmascaradas como apenas uma forma de “lavar” a origem de tartarugas selvagens para venda legal – a exemplo do acontecido no Estado de Nova York.

Uma investigação em março de 2009 por um agente infiltrado entre os comerciantes do réptil, que é protegido sob as leis estaduais de Nova York, levou a acusações criminais contra 18 pessoas. Mas Aresco, o biólogo da Flórida que dirige uma reserva para jabutis, diz que as criações talvez sejam a melhor chance para as tartarugas.

“Seria positivo se elas continuassem sustentáveis e operando com seus estoques de acasalamento originais, em lugar de se reabastecerem na natureza”, ele diz. “Isso é parte importante do processo, e poderia se tornar uma séria lacuna caso essa parte da equação não seja regulamentada e fiscalizada”.

(Com informações do Terra)

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