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Para além do "feminismo" mulherista

8 de março de 2018
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Decorridos alguns dias após o dia 08 de março, em que é comemorado o dia internacional das mulheres, símbolo de uma luta histórica marcada pelo massacre ocorrido numa fábrica de tecidos em Nova York, no ano de 1857, onde aproximadamente 130 tecelãs morreram carbonizadas por reivindicar melhores condições de trabalho e equiparações salariais em relação aos homens, penso que está na hora de avançarmos e aprofundarmos a temática da igualdade e dos direitos de todas as fêmeas e não apenas das mulheres.
Do “mulherismo” temos que evoluir para o feminismo, de fato, ampliando os horizontes que levem a um mundo mais justo e pacífico a todas as fêmeas. Por tabela, esse feminismo ajudaria a combater o especismo (preconceito de espécie). Mas me assusta ver seres historicamente oprimidos, subjugados, inferiorizados e explorados pelos homens fazendo o mesmo sobre condição semelhante a outros seres. É possível atribuir “conquista” quando mulheres se igualam aos homens para imitá-los em suas características mais abomináveis como a prepotência, a arrogância, a sobrepujança e a soberba em relação às demais espécies? As touradas, os rodeios, as vaquejadas e gineteadas é que o digam, para exemplificar uma situação.
Se a aparência física serviu como condição para a inferiorização, repressão e subjugação da mulher pelo homem, tal como o maior ou menor grau de melanina na pele implicou na escravização de uns sobre outros, a mesma fundamentação também serve para rompermos a condição dominante de exploração humana sobre a vida animal. Trata-se de uma diferença apenas na aparência, porém semelhante na essência e relevância por desejos (necessidades) vitais, sentidos e sentimentos. O desejo por relacionar-se afetivamente com seus pares, a sede, a fome e o desejo de saciá-la com um alimento de sua escolha de acordo com sua natureza, a dor, a angústia, a tristeza, a alegria, etc, tudo isso nos equipara moralmente em direitos e deveres éticos que busquem por justiça e igualdade. E aí não cabem mais argumentos antropocêntricos e justificativas torpes para a manutenção dessa situação injusta de dominação e apropriação da vida alheia.
As fêmeas não humanas, por sua inerente e peculiar condição físico-reprodutora, são as maiores vítimas da exploração e da crueldade humana. São elas que através da cloaca, colo, ovários, útero, oviduto, vagina, tetas e outros órgãos ligados a reprodução e suprimento da vida, fornecem ao mercado seres-coisas-objetos que virão a ser seccionados, carimbados e embalados em saquinhos ou bandejinhas, com direito a código de barra e tudo. Tudo a gosto do freguês humano macho e fêmea. Esta, em sua grande maioria numa vida pós seios que nutrem bebês, continuam a dar seqüência na alimentação destes, se não preparando, ocupando-se na escolha daquilo que chegará a suas bocas. E é aí que machos que exploram fêmeas que exploram fêmeas, contribuem nesse sórdido e perverso sistema infernal ligado à indústria da carne, dos ovos e do leite. E aqui estamos tratando de uma instrumentalização mais ampla, cuja supremacia e controle da agroindústria e da pecuária em sua origem, se concentram basicamente nas mãos dos homens. Mas é claro que nesse meio do caminho poderá haver uma veterinária que ensine o peão a deflorar com o braço o ânus da vaca para limpeza do intestino e após, injetar na vagina o aparelho com esperma do touro; a mesma poderá ainda garantir para o patrão-fazendeiro o certificado de “bem estar” desses seres miseráveis, ainda que não peguem sol e nem escutem Beethoven. Sem falar da presença feminina nas linhas de produção dos frigoríficos.
Por tudo isso é que devemos pensar e agir para além dos interesses das fêmeas e machos humanos. É estranho lutar por liberdade de expressão, de autonomia do corpo e de movimentos quando agimos incoerentemente e preconceituosamente ao dispor da vida e dos corpos de bilhões de fêmeas e de machos pelo mundo afora!

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