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O argumento da arbitrariedade

19 de dezembro de 2014
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Em outra postagem, discutimos uma defesa comum do especismo que parte do relativismo moral. Oferecemos um argumento geral para se rejeitar o relativismo moral. Contudo, outras defesas do relativismo ficaram a ser discutidas. Esse artigo discute um argumento a favor do relativismo que afirma que todos os julgamentos morais são igualmente arbitrários. Chamarei-o de argumento da arbitrariedade. Tal argumento diz o seguinte:
“Não há verdade moral objetiva, toda visão moral é igualmente arbitrária; logo, para saber o que é certo/errado quando ao que fazer na prática, devemos perguntar o que a sociedade onde estamos pensa que é certo/errado fazer na prática”
Muitas vezes, a conclusão desse argumento é utilizada para se defender o especismo:
“Certo e errado são relativos à cada sociedade. Portanto, devemos respeitar a tradição de cada cultura. Já que toda e qualquer cultura usa os animais não humanos como recursos, não há, então, o dever de se respeitar os animais não humanos”.
O argumento da arbitrariedade pode ser resumido assim:
(1) Se todas as visões morais forem igualmente arbitrárias, devemos adotar a visão moral da sociedade onde estamos;
(2) Todas as visões morais são igualmente arbitrárias;
(3) Logo, devemos adotar a visão moral da sociedade onde estamos.
Primeiramente, existem razões para se objetar à premissa 2, ou seja, a idéia de que toda visão moral é igualmente arbitrária. A discussão sobre esse ponto pode ser encontrada aqui. Para efeito de argumentação, contudo, vamos assumir que tivesse ficado provado que toda visão moral é igualmente arbitrária. Precisamos agora avaliar a primeira premissa. O que isso implicaria? Ora, parece óbvio que implicaria que não existem práticas que há obrigação de se adotar ou que há obrigação de se rejeitar. Se todas as posições morais fossem igualmente arbitrárias, como poderia seguir disso a conclusão de que temos de acatar as normas da sociedade onde estamos? Se uma posição não é mais válida do que a outra, então não existe o dever de respeitar as normas das sociedades (e, também não existiria o dever das sociedades respeitarem-se mutuamente), pois isso seria dizer que é mais válido respeitar as normas das sociedade do que não respeitar.
Assim sendo, esse argumento a favor do relativismo moral é auto-refutante: afirma que não existem verdades morais objetivas e que toda posição é igualmente arbitrária, ao mesmo tempo que mantém que existe o dever de respeitarmos as normas de cada sociedade. Para alguém provar que tal dever existe, teria de provar duas coisas: (1) que existe verdade moral objetiva, mas, não apenas isso, e sim, também que; (2) tal verdade moral objetiva prescreve respeitar as normas de cada sociedade. É possível que a primeira afirmação tenha boas razões para ser aceita, e ainda assim, a segunda não. As razões para se rejeitar a segunda alegação são oferecidas aqui. Já as razões para se rejeitar o especismo se encontram nos três links a seguir: 12 e 3.

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