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Ativismo no jornalismo e nas artes

29 de fevereiro de 2016
5 min. de leitura
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Foto: Arquivo Pessoal.
Foto: Arquivo Pessoal.

Mauricio Kanno é jornalista, escritor e artista. Foi fundador do grupo de estudos de direitos animais – GEDA, e atualmente é aluno no programa de pós-graduação Interunidades em Estética e Historia da Arte, da Universidade de São Paulo – PGEHA/USP.

Nessa entrevista concedida a ANDA ele relata como se deu sua entrada na causa animal, fala sobre jornalismo e os animais e como as artes podem ajudar na divulgação do movimento.

ANDA: Maurício, como foi seu primeiro contato com a dieta vegetariana e com o modo de vida vegano?

Mauricio: Hum… Eu tinha um colega de trabalho vegetariano. Eu achava aquilo estranho, mas acabei convencido a querer dialogar com ele tentando entender o estranho daquilo. Lembro que a questão de “ah, e as plantas?” me pegou no início, mas o argumento ambiental de produtividade e desperdício de recursos me convenceu. E como senti que pelo meu princípio de pacifismo, não fazia muito sentido não estender pacifismo também aos animais… Lá fui eu.

Aí comecei a montar o GEDA em 2007. A primeira reunião foi em novembro desse ano. Eu não conhecia ninguém do meio vegetariano ou vegano, e comecei a tentar achar gente pelo hoje, finado Orkut, por exemplo. E no fim o GEDA acabou sendo minha porta pra conhecer muita gente no meio.
Foi por meio dos argumentos dos colegas, como David [Turchick], que acabei também indo pro veganismo no ano seguinte.

ANDA: O que é o GEDA?

Maurício: Bem… Construí como uma iniciativa de estudos independentes, em que cada um, não importa o nível de conhecimento que tenha, vai tomar conta de um assunto, estudá-lo e apresentar aos demais. Como eu não conhecia nenhuma outra iniciativa do tipo na época, achei que podia ser minha contribuição fazer isso. Hoje em dia existem outros grupos de estudos sobre ética animal ou direitos animais, até seminários rolando por aí com mais frequência. Mas acredito que o pioneirismo do GEDA (grupo de estudos de direitos animais) foi legal até pra estimular a criação de outros grupos ao sabor de cada um em seguida. Com suas reuniões mensais, que conduzi por uns anos até cerca de 2010, passando então a coordenação para outras pessoas. Mas eu sempre tentei fazer a coisa bem coletiva, havia até reuniões de programação semestrais

ANDA: Como jornalista, você tem visto uma melhora nos meios de comunicação no modo como se referem aos animais não humanos?

Maurício: Olha, não tenho acompanhado muito. Mas acho que é nítido como alguns novos episódios de repercussão foram aparecendo, como caso Royal, resgate dos porcos do Rodoanel, etc. Que forçaram a mídia a abordar o assunto, além de darem espaço para blogueiros e colunistas a respeito, como o Fábio Chaves no R7 e o Yuri Gonzaga na Folha. Mas é claro que quanto ao modo de abordagem comum de matérias a respeito, ainda aparecem tons depreciativos. Inclusive também de vloggers e blogueiros e outros colunistas reacionários por aí. Faz parte. O interessante é que o assunto vai entrando na pauta, né.

ANDA: Você acredita que algumas matérias, mesmo pequenas, sobre vegetarianismo, veganismo e direitos animais, em sites e jornais de grande circulação ajudam a disseminar a ideia de libertação animal?

Maurício: Ah, seguramente. Tem que partir desse pressuposto, né. Eu mesmo quando trabalhava na Folha [de S. Paulo] sempre tentava fazer isso. Até encaixando aspectos sobre isso quando isso não era falado, por exemplo. Mídia é isso, nunca se sabe o impacto que vai ter exatamente, e aonde vai chegar, mas tem um fator de disseminação de ideias, de informação. Ainda mais em grandes mídias. Mas o fato é que também podemos confiar mais nas pequenas mídias-indivíduos nesse papel hoje, com a multiplicação dos meios de acesso e com a decadência das grandes empresas jornalísticas, que vão perdendo cada vez mais recursos de publicidade e demitindo tantos jornalistas.

ANDA: Mauricio, e quanto as Artes, como você vê os usos das Artes no ativismo em defesa dos animais?

Maurício: Então, entendo que são uma forma de alcançar as pessoas por uma vertente mais emocional, menos racional, mais sutil, mais bonita, mais criativa, talvez até mágica. Foi ao me frustrar um pouco com as maneiras tradicionais de argumentação que acabei me voltando a isso, com os saraus e mostras de arte em prol da causa. Mas talvez eu consiga refletir mais a respeito no mestrado em andamento em que analiso quadrinhos sob essa óptica dos direitos animais, no campo de estudos de estética e história da arte.

ANDA: É uma linguagem que atinge da criança ao idoso?

Mauricio: É claro que as artes como qualquer meio não necessariamente vão atingir todos os públicos, tanto que há classificação etária em filmes. Você pode ter um estilo mais hardcore também, mais infantil, mas elas vão por outra vertente do cérebro

ANDA: Mas as artes também podem de uma forma sutil, trazer uma lógica racional , uma critica bem fundamentada embutida?

Mauricio: É, podem. Eu não sei exatamente o impacto disso… Talvez algum estudo mais específico deva ser feito.

ANDA: Da criação do GEDA em 2007 até hoje, você tem visto um crescimento de adeptos no movimento? Ou está parado, estagnado?

Mauricio: Bom, tenho receio em opinar sobre isso sem estatísticas corretas. Tudo é só impressão. Apenas dá pra dizer que nos grupos de facebook por exemplo, como no de musculação vegana que acompanho, ora ou outra vemos pessoas interessadas, dizendo que acabaram de se tornarem vegetarianas ou veganas, ou há alguns meses, também, podemos ver pelos bazares veganos pipocando ao menos em São Paulo todo mês, lotados com diferentes organizadores, Ver esses eventos com tal sucesso de público acho que também é um indicador interessante.

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