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Projetos buscam salvar animais ameaçados de extinção no Ceará

17 de outubro de 2010
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Cabeça vermelha, pássaro da caatinga ameaçado pelos incêndios (Foto: Por Reprodução)

A zona costeira cearense tem uma grande diversidade biológica (e pequena em quantidade por espécie), maior que muitos Estados. Em 573km de litoral, diversas paisagens de dunas, mangues, falésias, com fauna e flora envolvidas na dinâmica desse habitat. Enquanto o meio ambiente segue ameaçado, animais correm risco de extinção, moradores das comunidades praianas são capacitados por Organizações Não Governamentais (ONGs) ambientalistas e intensificam a mobilização para a consciência do cuidado com a natureza.

“A nossa santa Mãe Terra, ela é grande tesouro/ é nela que nós convive, é dela que nós precisa/ É dela que nós precisa, sem ela não somos nada, somo que nem uns peixinhos, nadando fora da água…”, canta Cacique Pequena, dos povos indígenas Jenipapo-Kanindé, em Aquiraz. Apesar da poluição das águas, das queimadas e desmatamentos para ocupação em áreas que deveriam ser de preservação permanente, os povos do mar estão se reunindo com o objetivo de preservar.

Em Icapuí, crianças fazem o replantio nos manguezais; em Aracati, jovens plantam mais de mil mudas de árvores frutíferas, fazem cinema para alertar a consciência ambiental; no Município de Acaraú, mulheres se mobilizam contra a prática ilegal de camarão em cativeiro; em Camocim, ambientalistas desenvolvem trilha de aventura para despertar a consciência ecológica, e “ai” do turista que não jogar o lixo na lixeira. Muito já se perdeu da biodiversidade no litoral cearense, mas houve nas comunidades um ganho de consciência ecológica incentivada por órgãos como Instituto Terramar, Esplar e Associação de Pesca e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis).

Por meio da educação, as comunidades protestam contra a degradação ambiental, cobram que as prefeituras municipais saiam da omissão, questionam determinadas licenças ambientais, impetram ações civis públicas, sugerem intervenções como a revisão da resolução 02 de 2002 do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Coema), já que a mesma tem permitido a implantação de granjas de camarão em áreas Apicum (em tupi, “área inundada pelas marés”), embora as mesmas estejam diretamente associadas aos mangues e, teoricamente, devem ser preservadas. A costa litorânea do Estado é rica em aves migratórias, muitas aproveitando o “corredor do Atlântico” vindas do Ártico em direção à região da Patagônia (Argentina), e encontram nos manguezais cearenses, notadamente em Icapuí, lugar ideal para hospedagem.

Educação

Dentre as atividades de educação ambiental promovidas pela Aquasis estão o Projeto Brigada da Natureza, com 18 alunos tendo aulas de ecologia e práticas de surfe; viveiro de mudas frutíferas, financiado pela Federação Cearense de Comércio (Fecomércio); e o Projeto Manati, que tem o patrocínio do Programa Petrobras Ambiental. Prevê a construção de um novo centro de reabilitação de mamíferos marinhos, em que se poderá realizar a completa reabilitação de peixes-bois e pequenos cetáceos, até serem soltos novamente na natureza.

Projetos capacitam para resgate

Fortaleza. Não é mais novidade encontrar em alguns pontos do litoral mamíferos encalhados, desde tartarugas marinhas a baleias jubarte, passando por botos e peixes-bois. A demora do resgate e maus-tratos nas áreas de encalhe são entraves para o sucesso no resgate. Mas grupos de pescadores começam a ser capacitados para serem socorristas dos mamíferos marinhos. A Associação de Pesca e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis) promove oficinas com pescadores para o resgate de bichos encalhados. “Eles fazem os primeiros cuidados facilitam o trabalho de reabilitação, e também melhora a consciência de conservação”, explica a bióloga Khaterine Choi.

A ocorrência de encalhe de mamíferos é registrada pelo Centro de Reabilitação de Mamíferos Marinhos (CRMM) que possui uma equipe de técnicos treinados e licenciados pelo Ibama, para o pronto atendimento a encalhes de golfinhos, baleias e peixes-boi, ocorridos no Ceará ou estados vizinhos. As comunicações geralmente são feitas por pescadores e moradores das comunidades litorâneas do Estado do Ceará, agentes ambientais, bombeiros e pelo Ibama. Dependendo do estado de saúde do animal, ele pode ser encaminhado para soltura imediata no mar, reabilitação em sistema de cativeiro ou semi-cativeiro ou, em última instância, para eutanásia, de acordo com a conduta da Medicina Veterinária e Protocolo da Rede de Encalhes de Mamíferos Marinhos do Nordeste (Remane/Ibama).

O Ceará tem se destacado com projetos apoiados pela Fundação SOS Mata Atlântica. O projeto “Refúgio de Vida Silvestre do Peixe-Boi Marinho” se destina à criação de uma Unidade de Conservação de Proteção Integral nos estuários dos rios Timonha/Ubatuba e Cardoso/Camurupim e zona costeira adjacente, para conservação da biodiversidade e manutenção dos serviços ecológicos. Outro projeto, “Área Marinha Protegida Litoral Leste do Ceará”, também da Aquasis, foi contemplado para criar uma Unidade de Conservação para preservar a biodiversidade costeira e o ordenamento da pesca artesanal.

Peixe-boi marinho

O peixe-boi marinho (Trichechus manatus manatus) é considerado por especialistas como o mamífero marinho mais ameaçado de extinção no Brasil. Sua estimativa populacional é de menos de 400 indivíduos para o litoral do Nordeste do Brasil, distribuídos em áreas descontínuas. O litoral leste do Ceará caracteriza-se como uma destas áreas de ocorrência, apresentando complexa problemática ambiental que vem causando destruição de habitats de alimentação (bancos de capim-agulha), reprodução e berçário (estuários), além das mortalidades provocadas pela interação com a pesca.

Fonte: Diário do Nordeste

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