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Ursos são libertados depois de anos de exploração

13 de dezembro de 2011
4 min. de leitura
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Por Natalia Cesana (da Redação)

Foto: Reprodução/La Stampa

Quatorze ursos-negros-asiáticos foram salvos do cruel mercado de bile no Vietnã e levados a um centro de recuperação da Associação Internacional de Proteção Animal da Ásia, localizado no Parque Nacional Tam Dao, perto de Hanoi.
Eles tiveram a liberdade tolhida por anos, encarcerados em estreitas jaulas enferrujadas. Eram mantidos vivos apenas para que a bile fosse retirada e depois utilizada pela medicina tradicional chinesa. Uma vida de pesadelo.
Os chineses, por milhares de anos, matavam os ursos para conseguir uma amostra de bile. Nos anos 1980, porém, mudaram o método. Depois que a caça foi proibida pelo governo chinês, a bile era extraída dos animais ainda vivos, presos em jaulas. Nasciam assim as fazendas de produção de bile.
Em 1993, Jill Robinson, uma senhora inglesa, visitou um destes locais de tortura e, tocada com a condição dos animais, decidiu criar a Fundação Animal da Ásia, uma organização que tenta salvar os animais deste inferno.
Veja a entrevista que o jornal La Stampa fez com ela:
Sra. Robinson, qual a estimativa de ursos que ainda estão presos nas fábricas?
Cerca de 10 mil na China (mesmo que os dados oficiais falem de 7.002 animais) e 3.600 no Vietnã.
Quantos a senhora já libertou?
Desde o ano 2000, salvamos 277 ursos. Destes, 174 ainda estão vivos (90 das fábricas chinesas e 84 das fábricas vietnamitas).
Quais são os problemas físicos e psicológicos encontrados nestes animais?
A prisão percorre toda a existência destes animais. No Vietnã, os ursos são dopados, normalmente com quetamina, amarrados com cordas para que suas barrigas sejam repetidamente perfuradas com agulhas enferrujadas de 10 centímetros comprimento até que, depois de numerosas tentativas, seja encontrada a vesícula biliar. A bile é extraída duas vezes ao dia, com o auxílio de cateteres ou de uma bomba médica. Quando os ursos chegam aos nossos centros de recuperação, muitas vezes ainda carregam no corpo colete de ferro que contém e protege um saquinho de plástico que, de hora em hora, é abastecido com a bile do animal. Os ursos ficam nessa condição até que a morte os livre dela. As causas mais comuns são o câncer de fígado ou por infecções. Só animais muito resistentes sobrevivem 20, 30 anos, mas o estado de desespero a que chegam os leva ao suicídio. Por isso os homens limam dentes e unhas.
Quão difícil é reconquistar a confiança destes animais?
Depois de 30 anos vivendo naquelas jaulas, é normal que eles sejam agressivos. Não sabem que estamos ali para ajudá-los. Por isso que quando eles chegam ao nosso centro de recuperação os mantemos ainda nas jaulas até que analisemos as condições destes animais. Depois de alguns dias eles começam a confiar.
Como é a reabilitação?
O processo pode durar um ano ou mais. Depois de uma cirurgia para remover o cateter e solucionar outros problemas físicos, os ursos são colocados em tocas, para que comecem a se habituar a andar livremente. Ali eles podem observar e sentir cheiros diferentes. Como são animais solitários, o comportamento deles deve ser monitorado de perto. Apenas quando demonstram estar em condições de viver em grupo é que são liberados no jardim. Para muitos deles, é a primeira vez que caminham na grama.
Mudou o uso da bile de urso na medicina tradicional chinesa?
A bile extraída dessas fábricas é contaminada por bactérias, pus, fezes, urina e possivelmente por resíduos de antibióticos. Muitos adeptos da medicina chinesa ressaltam a alta toxicidade da bile de urso para a saúde humana. O Dr. Huong, presidente da Associação Nacional de Medicina Tradicional Chinesa, analisou 10 pessoas que foram tratadas com essa substância; duas morreram logo depois, por comprometimento do fígado. Por isso os médicos chineses afirmam que existem ao menos 50 tipos de ervas medicinais capazes de propiciar os mesmos benefícios curativos.
Qual o principal problema encontrado nessas fábricas?
As fábricas representam ainda um negócio para camponeses. Em muitos casos, a bile produzida na China ou no Vietnã é exportada ilegalmente para países como Japão, Malásia, Coreia do Sul. Na China, as fábricas de bile são ainda consideradas legais e regulamentadas por licenças estatais. Mas graças a contínuas negociações, conseguimos que muitas fossem fechadas. Em 2000 assinamos um acordo para que 500 ursos fossem libertados. Em 20 províncias chinesas, quase metade do país, onde fábricas foram fechadas, os camponeses receberam auxílio para iniciar outra atividade diferente da exploração de urso.

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