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Um caso chamado Cecília: a ruindade humana

12 de abril de 2017
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Cecília em Mendoza (Projeto GAP)

À distância não entendíamos bem a situação. Um Habeas Corpus impetrado pela Organização AFADA para a libertação da chimpanzé Cecilia obteve uma Sentença positiva de uma Juíza do Tribunal de Garantias da Província de Mendoza, que a reconheceu como um Sujeito de Direito – uma pessoa não humana – e que deveria ser libertada de um cativeiro infame de 20 anos de duração.
Uma conspiração armada por aqueles que defendem os zoológicos como um negócio de entretenimento e lucram com o mesmo impedia que a Sentença fosse executada. Solicitamos a autorização do IBAMA, aguardamos por seis meses a chegada de Cecília, a mesma terminou vencendo e tivemos que solicitar a renovação dessa autorização. Nesses seis meses, pessoas de fora e de dentro do Zoológico conspiraram contra a decisão judicial e a determinação da Secretaria de Ambiente de Mendoza, que concordava com o traslado para o Brasil.
Indo mais além, agora sabemos que quando a nova Administração Federal assumiu o poder na Argentina, também em Mendoza, os cargos executivos foram alterados. Uma nova Administração com Conceito Ecológico entrou na Secretaria de Ambiente e Ordenamiento Territorial e transformou o Zoológico em Eco-Parque. O novo Secretário do Ambiente, Lic. Humberto Daniel Mingorance, nomeou a Dra. Mariana Caram como Diretora do Eco-Parque, com o objetivo de desfazer-se de todos os animais e convertê-lo num Parque Ecológico, cessando a exploração dos mesmos. Aquele Zoológico com 2000 animais, como muitos outros, é um conto de terror. Para citar alguns dados: têm 120 babuínos num único recinto; 30 leões que só tomam sol uma vez por mês; um urso que leva mais de 10 anos em um cubículo sem teto e isolado do mundo, e por aí vai, com dezenas de outros casos que são na realidade um crime ambiental da pior espécie. Dos quatro veterinários do Eco-Parque (funcionários públicos sindicalizados), que não podem ser demitidos, três se opunham ao traslado. Apenas a Dra. Georgina Lagrava concordava e acompanhou a viagem de Cecilia até a sua chegada em Sorocaba.
Durante toda esta luta para impedir o seu traslado, foram usados todos os tipos de artifícios para semear as dúvidas conosco e com o público, a fim de que o traslado fosse impedido.
Um casal que agia às escondidas financiava toda a campanha que se fazia através da mídia para impedir o traslado. Um advogado foi contratado para entrar com uma ação cautelar para impedir a execução da Sentença, alegando que “Cecilia era um bem da Província de Mendoza, que seria proibido se desfazer dela.” A Juiza Dra. Mauricio novamente ratificou com clareza e energia a sua decisão inicial e deu um prazo definitivo para que o traslado fosse executado.
Durante todo este tempo, nos mantivemos em silêncio, já que não sabíamos o que estava realmente acontecendo e dar opiniões talvez ajudasse aos que desejavam manter Cecilia prisioneira. No dia 30 de março fizemos o nosso primeiro comunicado anunciando o traslado, já que a imprensa nos cobrava semanas antes.
O plano do Lic. Mingorance e de Mariana Caram já estava bem desenhado e os riscos de ser boicotado eram menores. Porém, de imediato começaram as ameaças e os boatos. A ruindade do Ser Humano é tão grande que chegaram a ligar da Argentina para o nosso Ministério de Agricultura, informando que Cecilia estava doente e que não deveriam autorizar a sua entrada.
Para impedir qualquer acidente, a Delegação completa de apoio que foi de Mendoza à Buenos Aires tinha o Diretor de Fauna da Província e a própria Veterinária que atestava a saúde de Cecília. Uma última manobra, que mostra a ruindade e a pouca ética de profissionais que devem zelar pela vida dos animais, chegou muito tarde. O Colégio de Médicos Veterinários da Província de Mendoza enviou um comunicado ao Conselho Federal de Medicina Veterinária (CRMV), denunciando que o atestado de saúde de Cecília tinha sido assinado por um médico humano e não por um veterinário. O Conselho de Veterinários de São Paulo, sem certificar-se da validade da informação, elevou a denúncia ao nosso Ministério de Agricultura para impedir a entrada da mesma no Brasil.
Enquanto isso acontecia, Cecília já se encaminhava ao Santuário de Grandes Primatas de Sorocaba, chegou às 7:00 h da noite do dia 5 de abril, após 48 horas de viagem desde o Eco-Parque de Mendoza.
Cecilia nasceu no Zoológico, viveu 20 anos numa jaula cimentada e com grades por todos os lados, incluindo o teto, de 20 metros quadrados, a meio metro do público, que a assediava constantemente. Seus três companheiros morreram prematuramente por viver naquele local aterrorizante. Ela é uma sobrevivente.
Os zoológicos são isso, centros de tortura e perturbação mental de todos os animais que lá moram, para servir de entretenimento a um público que a cada dia mais entende que aqueles centros já deveriam estar extintos há muito tempo, se, na realidade, respeitamos o Reino Animal.
O significado da chegada de Cecilia ao nosso Santuário e a sua integração com os iguais de sua espécie transcende o Brasil e se estende pelo mundo. A Sentença da Juíza Dra. Mauricio é clara “Um Grande Primata é um Sujeito de Direito”, não podemos desprezar seus direitos como vem sendo feito há mais de um século, desde que o primeiro Zoológico nasceu da mente desequilibrada de alguns humanos.

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