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A agricultura toma ares de indústria

10 de abril de 2009
5 min. de leitura
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A grande povoação do planeta pela espécie Homo sapiens sapiens tem gerado uma infinidade de impactos, entre eles a demanda por alimentos. Esse é o mais grave problema que enfrentamos. Embora só recentemente, em função do biodiesel, se tenha começado a falar em escassez de alimentos, como se antes isso não existisse. Como se a fome e as políticas de distribuição de alimentos fossem ‘outros’ assuntos, que não merecessem a pauta da vez. O assunto foi levantado pelos meios de comunicação e logicamente já morreu, mas irei usá-lo como um bom exemplo.

Na verdade, há muito tempo os solos do planeta vêm sofrendo desgastes com a monocultura, atendendo a uma humanidade que cresce sem parar. Além de sem parar, também sem pensar. A criação de animais para consumo, além da crueldade evidente, é um luxo, em tempos de aquecimento global. Mas, mesmo antes, era um luxo, se pensarmos que atende a um público específico e consome uma infinidade de recursos que deveriam ser destinados à produção de grãos.

A população mediana acha que a carne, seja lá do que for, é algo normal, incorporada na vida cotidiana e monótona do trabalhador. Mas ela é uma forma de se esgotar os recursos rapidamente, enquanto a mídia fala da escassez de alimentos que supostamente será provocada pela produção de biodiesel.  É como aqui no RS, onde sempre se impactou o solo do Pampa com a criação de gado, e hoje nos preocupamos com a grave questão da monocultura de eucalipto, mas de uma forma que deixa transparecer a falta de informação com relação ao passado – a conhecida memória do brasileiro. Esses assuntos possuem extrema importância, de modo que, se fosse falar de cada um deles, não poderia ser em uma coluna, mas o que quero dizer aqui é que nos falta uma ponderação dos fatos, para que possamos tomar boas atitudes, e não apenas ficarmos esperando respostas.

Algumas pessoas, extremamente sonhadoras, ainda esperam que um dia haverá ‘carne orgânica’ no mundo inteiro, a ‘agricultura orgânica’ em escala planetária, com os dejetos sendo levados para a Lua, e todos nós poderemos conviver com nossa consciência [tranquila] de que os animais morrerão em campos de flores e com música de violinos (esperamos que não toquem Paganini).

Mas o que temos de pensar e rápido é como isto irá acontecer em um planeta que a cada dia se degrada mais, e com uma humanidade que cresce de forma exponencial.

Embora a agricultura orgânica e familiar seja praticamente a única solução, ela tem que ser adaptada aos países e culturas. Nem todos terão terras disponíveis, e os solos do mundo, em boa parte, já estão contaminados com diversos materiais, e ainda nem falamos dos transgênicos e seus possíveis impactos a longo prazo.

A monocultura ainda continuará a ser a grande abastecedora das cidades, e hoje toma ares de indústria em campos imensos e gado confinado. Os estudos sobre a pecuária há muito tempo já apontam as formas de poluição que causam e o desequilíbrio entre interesses [de alguns] contra os interesses coletivos de preservação ambiental.

No Brasil, a bancada ruralista é extremamente forte, o suficiente para criar leis interessantes, curiosas e terríveis, como o Projeto de Decreto Legislativo 13/2008, da senadora Kátia Abreu (DEM-TO), que revoga cinco artigos do Decreto Presidencial nº 6.321, de dezembro de 2007. Entre um desses artigos que ela pretende derrubar está o que proíbe as instituições públicas de financiar as propriedades que não cumprem a legislação ambiental. Uma das consequências pode ser o financiamento de atividades ilegais, como a criação de gado e o cultivo de soja em áreas de preservação permanente.

As pesquisas sobre a produção de grãos, especialmente no Rio Grande do Sul, mostram que realmente a produção vem caindo ao longo dos anos, em função das mudanças climáticas, mas a produção vem sendo bem maior do que os números esperados pelas pesquisas. Um trecho retirado do jornal Gazeta de 7 de abril nos diz “(…) a cada novo levantamento, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) revê para cima a estimativa da produção brasileira de grãos. De acordo com o levantamento atual, o Brasil vai colher 137,5 milhões de toneladas de grãos na safra 2008/09 – crescimento de 2,25 milhões de toneladas na comparação com a projeção de que o País produziria 135,3 milhões de toneladas, conforme divulgou a Conab em março”.

A mídia faz questão de colocar polêmicas, como a do biodiesel, para confundir e desviar a atenção das coisas que realmente estão acontecendo no Senado por aqueles que chegaram lá com ajuda dessa mesma população. É claro que, a longo prazo, podemos ter problemas com o biodiesel se ele for usado como única fonte de energia. Mas antes mesmo desse problema, temos outros mais graves que nem mesmo são mencionados, como é o caso do destino dos poluentes das agropecuárias, a poluição das águas causadas por insumos agrícolas, por esterco dos suínos e bovinos etc. A preocupação não existe ou apenas é tema de blablablá conciliatório. Uma coisa é adubar a pequena horta com um pouco de esterco de vaca, outra coisa é onde enfiar as toneladas diárias desse material nos diversos lugares onde a demanda é grande. As leis que são postas em votação lá no Senado, ou as medidas tomadas aqui nas Prefeituras passam despercebidas pela população, que desconhece a política semialfabetizada que impera no Brasil.

Esses fatos nos mostram o quanto as pessoas em geral estão desinformadas em relação ao que acontece em nosso país. Não porque não exista a informação, mas pela incapacidade de correlacionar os fatos.

Materiais para consulta

Gazeta online

Revista Amanhã

Projeto de Decreto Legislativo da Senadora Kátia Abreu: http://www.senado.gov.br/sf/atividade/Materia/detalhes.asp?p_cod_mate=84198

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