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Por que veganos anti-humanistas são mais parecidos com especistas pró-pecuária do que pensam

8 de julho de 2016
4 min. de leitura
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Dividem os seres sencientes em hierarquias morais injustas. Usam ideologias conservadoras de discriminação para tentar justificá-las. Defendem, apoiam ou promovem violência contra os que foram forçados às camadas mais baixas dessas hierarquias. Quem faz essas coisas? Se você respondeu que são os especistas e também os veganos anti-humanistas, acertou. E entenderá por que, neste texto, mostro que ambas as categorias têm muito mais em comum do que se costuma pensar.
Muitos veganos acreditam ser vanguardistas em termos de ética. Afinal, fazem o que a grande maioria dos seres humanos ainda não faz, que é respeitar os animais não humanos considerando-os iguais em consideração moral aos humanos. Mas a vanguarda acaba e volta a ser atraso quando o assunto é hierarquização entre os seres humanos, por classe social, raça, gênero, orientação sexual etc. Ou seja, o respeito nivelado por cima que beneficia os animais não humanos contraditoriamente não engloba todos os seres humanos.
Isso porque não hesitam em promover ataques aos Direitos Humanos e a reivindicações sociais de minorias políticas, nem em incidir em discursos preconceituosos e discriminatórios. Não são raras, por exemplo, as piadinhas machistas, racistas, heterossexistas, pauperofóbicas etc., ou as manifestações de ódio racial, xenofóbico ou misógino quando, por exemplo, se fala de proibir por lei e reprimir pela força policial sacrifícios de animais em rituais de religiões afro-brasileiras, ou se destrata e se objetifica mulheres em fóruns virtuais de veganismo.
Também abundam entre essas pessoas os rompantes de raiva misantrópica, que generaliza a todos os seres humanos a falta de caráter e sensibilidade ética de alguns. É um ódio que, ao atrelar a essência aética e a “irreversibilidade” da falta de caráter a alguém por ser da espécie humana, rejeita a perspectiva de que um dia a humanidade se tornará vegana e plenamente respeitadora dos animais não humanos. E joga no lixo décadas de esforço de milhões de vegans ao redor do planeta por um mundo melhor.
Isso sem falar no costume de rejeitar com repulsa políticas de combate às desigualdades sociais. Reduzem iniciativas como as cotas raciais em universidades, a Lei Maria da Penha, campanhas de combate à homo e lesbofobia e cursinhos preparatórios pré-vestibular e pré-concursos para pessoas trans a “mimimi de vitimistas”, “violação da meritocracia”, “discriminação reversa”. Isso além das pregações de que “bandido bom é bandido morto”, “vagabundo tem que morrer” e “Direitos Humanos é coisa de defensor de bandidos”, quando a mídia noticia crimes contra brancos de classe média – aqui a ética da não violência e da cultura de paz inerentes aos Direitos Animais é reduzida a cinzas.
Esse pessoal não percebe, mas não é tão diferente assim dos especistas assumidos que defendem a pecuária e outras tradições de explorar e matar animais. Estes também têm o costume de considerar os avanços dos Direitos animais algo “absurdo” por “violar as tradições” e dar direitos a quem “não merece”, defender a “naturalidade” da hierarquização moral dos animais e declarar ódio ou desprezo ao porco, à vaca e ao boi, ao frango e à galinha, aos peixes etc. e também aos veganos que os defendem.
O ódio que muitos “veganos”, mesmo em se tratando de pessoas que costumam comparar especismo com racismo e machismo, contraditoriamente têm aos movimentos sociais contrários à discriminação e desigualdade racial e de gênero não é diferente ao que churrasqueiros têm ao movimento defensor do veganismo e opositor da pecuária. Nem há muita diferença entre os defensores do capitalismo, consentidores de todas as suas cadeias de objetificação, mercantilização e exploração da vida humana, e os advogados voluntários dos sistemas de exploração animal que também objetificam, mercantilizam e exploram vidas sencientes – não humanas e também humanas.
E da mesma maneira, os “veganos” que riem de piadas homofóbicas e machistas e são contra o feminismo e a criminalização da homo-lesbofobia estão em clima de “tamo junto” com os especistas assumidos que falam misógina e homofobicamente que “veganismo é coisa de viado (sic) e feminazi (sic)” e “homem de verdade come no churrasco com vigor e orgulho”.
Os veganos anti-humanistas precisam perceber o quanto antes que seu suposto veganismo, por não ser carregado dos mais básicos valores éticos inerentes aos Direitos Animais, não beneficia os animais não humanos. É necessário notarem também que estão concordando com os mais violentos e tradicionalistas defensores do especismo e da exploração animal, por separar os seres sencientes em seres “superiores” e “inferiores”, quando incidem em seus preconceitos que excluem milhões ou bilhões de seres humanos da sua esfera de respeito e consideração moral. Se saíram do especismo, devem fazer com que o especismo e seus valores de desigualdade, hierarquia e violência, saiam deles.

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