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Uma homenagem dos chimpanzés

4 de novembro de 2015
4 min. de leitura
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Milan e Anita Starostik
Milan e Anita Starostik

Se a alguém os chimpanzés do Brasil devem fazer uma homenagem pela luta por sua sobrevivência e condições de vida, esse alguém se chama Milan Starostik. Nos últimos 15 anos com Milan, um cidadão de origem Tcheca, que montou no Paraná um poderoso grupo industrial – a Cia. Providência, tivemos o privilégio de trabalhar juntos pela paixão que nos uniu: os chimpanzés.
Milan começou a ter chimpanzés alguns anos antes que nós. Parou alguns anos depois e quando nos conhecemos e viu o que estávamos iniciando em Sorocaba, voltou a cuidar desses primatas em um Santuário que tinha junto ao seu grupo industrial em São José dos Pinhais, perto de Curitiba.
Milan e sua esposa, Anita, que sempre o apoiou em todo momento, salvaram, junto conosco, a vida de mais de 100 chimpanzés que eram explorados em circos, zoológicos e em mãos de particulares. Quando decidiu vender o Grupo Providência, construiu uma casa e um Santuário para abrigar os chimpanzés que tinha na fábrica e outros que resgataria nos anos seguintes.
Na luta pela sobrevivência de chimpanzés, teve momentos de angústia e dor, como quando o finado Beto Carrero, usando uma liminar judicial, invadiu o seu Santuário com força policial fortemente armada e sequestrou vários chimpanzés que foram do extinto Circo Garcia e que nos pertenciam legalmente, já que tínhamos comprado a chácara com os 14 chimpanzés que lá moravam, que eram propriedade de Carola Garcia.
Quando pedimos ajuda ao Ibama em Brasília, solicitando sua interferência para recuperar os chimpanzés, que estavam correndo perigo de morte numa instalação precária do Zoológico catarinense, um infeliz Chefe da Fauna do Ibama nos virou as costas e falou que conseguíssemos um advogado. Milan assumiu aquele desafio de um burocrata que esquecia o seu papel de defensor da fauna e contratou a melhor banca de advogados disponíveis; deu o troco nos circenses, recuperando os chimpanzés sequestrados e um bebê recém-nascido de presente.
No Santuário do Instituto Anami, no Paraná, mais de 20 chimpanzés e 1 orangotango desfrutam de uma vida de paz, após anos de cativeiro miserável.
Um dos casos mais complicados foi do grupo de Peter. Este chimpanzé, que chegou ainda bebê da Suíça, morava no Zoológico Buana Park, no Rio de Janeiro, com duas fêmeas (Tata e Judy). Quando este Zoológico foi interditado pelo Ibama, devido às condições precárias dos animais, o grupo de Peter foi negociado pela direção de Fauna do Ibama de Brasília com um Zoológico particular que estava sendo construído em Fortaleza, o Paraíso Perdido. Nós já tínhamos combinado com o proprietário do Zoológico, antes de ser interditado, que o grupo de Peter viria para Sorocaba.
Porém, os interesses falaram mais alto e o grupo terminou em Fortaleza, em um recinto sem sombreamento, exposto a poucos metros do público, onde qualquer primata enlouqueceria.
Milan negociou vários meses com o dono do Paraíso Perdido, que logo entrou em dificuldades econômicas e tinha começado a negociar os animais vendáveis. Duas filhas do grupo foram para um outro Santuário em Ibiúna e o grupo de Peter, acrescido da filha maior deles, chegou no Paraná. Nessa época Milan já estava em vias de vender seu grupo industrial e seu Santuário não estava totalmente pronto. Ante a impossibilidade de manter o grupo de Peter com ele, os enviou ao Santuário de Grandes Primatas de Sorocaba. As duas fêmeas estavam muito debilitadas pela vida em Fortaleza e tivemos que nos esforçar para que sobrevivessem. Tata teve dois filhos em Sorocaba: Marcelino, hoje adolescente, e Miguel, ainda bebê. Poucas semanas atrás chegou o terceiro filho.
Este bebê – forte e já esperto a poucas semanas do nascimento – é a homenagem que Peter, Tata e Judy desejam fazer a Milan Starostik, por ter lhes salvado a vida e de toda família. O nome deste bebê será Milan. É o desejo dos pais e de dezenas de outros chimpanzés brasileiros que devem sua existência ao trabalho sem interesses, profundo e sincero de um homem que dedicou uma parte de sua vida a lutar pela espécie que mais se aproxima à nossa e que tanto foi judiada por nós mesmos.

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