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Vazamento de petróleo diminui as chances de pelicanos-marrons se recuperarem de extinção

4 de julho de 2010
4 min. de leitura
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Por mais de uma década, as centenas de pelicanos-marrons que faziam ninho nos mangues a oeste da Ilha Queen Bess eram prova de que uma espécie à beira da extinção conseguira se recuperar. A ilha era um dos três locais na Louisiana onde esses pássaros foram reintroduzidos depois que pesticidas quase provocaram seu extermínio nos anos 60.

Mas, no dia 29 de maio, esses pássaros, com suas penas cobertas por lama grossa, foram levados para um centro de reabilitação em Fort Jackson. São as vítimas mais recentes do desastre da Deepwater Horizon. E dezenas deles foram levados para outros centros de recuperação.

Seis pelicanos foram trazidos para Fort Jackson e, como os visitantes observavam, os pássaros estavam imóveis nas gaiolas improvisadas; parecia que a lama os tinha congelado. Eram tratados em aposentos aquecidos por encarregados que vestiam uma roupa de proteção.

“Os pelicanos estão em péssima condição”, disse Dorg Inkley, cientista da National Wildlife Foundation, preocupado que o vazamento de petróleo possa acabar com a recuperação dos pássaros na Louisiana.

As imagens de pássaros cobertos de petróleo – pelicanos, mergulhões do norte, gaivotas e outros – são uma lembrança inquietante do desastre do Exxon Valdez, há 21 anos. E, nas últimas semanas, elas se tornaram o mais vívido símbolo dos danos provocados pelas centenas de milhares de barris de óleo cru derramados no Golfo do México desde a explosão da plataforma Deepwater Horizon, em 20 de abril. Desde que começou o vazamento, centenas de pássaros afetados foram catalogados, muitos mortos, mas alguns ainda vivos e encharcados de óleo.

Mas o pelicano-marrom, por causa de sua história de recuperação, tem um significado especial. Esses pássaros eram tão comuns que adornam a bandeira do Estado. Eram companheiros frequentes dos pescadores, que compartilhavam das suas águas e admiravam sua habilidade para localizar peixes à distância e mergulhar de grandes alturas para recolhê-los com seus bicos.

Na virada do século 20, observadores estimavam que a população de pelicanos-marrons na Louisiana chegava a 50 mil. Mas, em 1961, nenhum casal foi localizado ao longo de toda a costa do Estado, de acordo com a Guarda Costeira. Como outras subespécies do pelicano-marrom encontradas na Califórnia, os pássaros locais foram severamente atingidos por DDT e outros pesticidas, que afinavam as cascas dos seus ovos, esmagados quando adultos se sentavam sobre eles.

Em 1968, a Louisiana trouxe os pássaros de uma colônia de sobreviventes na Flórida e os reintroduziu na costa sul do Estado em três pontos. Um deles era a Ilha Queen Bess, que se tornou morada de um dos últimos casais de reprodução, disse Kerry St. Pe, diretor do Programa Nacional de Estuários de Terrebonne e Barataria.

Os pássaros tiveram dificuldades de adaptação. Os pântanos da região e a Ilha Queen Bess eram afetados pelos diques do Mississippi e pelos canais abertos pelas petroleiras. Isso até 199o, quando um projeto para restauração da costa financiou uma barreira rochosa em torno da ilha, estabilizando-a. A colônia de pelicanos começou a crescer. Em 2009, os pelicanos-marrons saíram da lista de espécies em perigo de extinção.

Mas o vazamento de óleo pode mudar isso. Como todas as aves, os pelicanos são muito sensíveis ao óleo, disse Melanie Driscoll, diretora de preservação de aves da Louisiana Coastal Initiative. O óleo os impede de regular a temperatura do corpo, deixando-os sujeitos a superaquecimento. O óleo também envenena os peixes dos quais eles se alimentam e se infiltra nos ovos.

Dano aparente. O dano era aparente no centro de salvamento do International Bird Rescue Research Center, da BP e de autoridades federais. Muitos dos pássaros estavam tão cobertos de óleo que não conseguiam ficar de pé. Os encarregados os limpavam com toalhas, davam fluidos e peixe e os colocavam em gaiolas. Na manhã seguinte, teve início a limpeza, com água e detergente.

Até agora, mesmo os mais encharcados de óleo sobreviveram. Se não tivessem sido tratados imediatamente, teriam se afogado ou perecido. “Muitos deles vão desaparecer”, disse Melanie. Mas a preocupação dela é que, um número muito maior de pelicanos em breve será levado ao centro. “Poderemos ter uma centena. E esse número pode chegar a milhares.”

CRONOLOGIA

Vazamento dura meses

20 de abril
Explosão

Acidente na plataforma Deepwater Horizon, localizada a cerca de 80 quilômetros da costa da Louisiana, no Golfo do México, causa a morte de 11 funcionários da empresa British Petroleum.

22 de abril
Vazamento

Petróleo começa a vazar do poço ligado à plataforma, que afundou após a explosão.

10 de maio
Tentativa frustrada

Após tentativa fracassada de conter o vazamento, a BP usa um submarino operado por controle remoto para jogar solventes no mar.

18 de maio
Desastre ao vivo

Imagens ao vivo do vazamento de petróleo passam a ser exibidas continuamente no site da empresa. Mais de 300 mil pessoas assistiram ao vídeo em apenas uma noite.

27 de maio
Moratória da exploração

O presidente Barack Obama anuncia a interrupção de novas perfurações para a prospecção de petróleo no golfo e prorroga por mais seis meses uma moratória para a exploração de petróleo na costa do Atlântico dos EUA, autorizadas em março.

10 de junho
Desastre publicitário

A BP compra termos de busca em inglês nos sites de pesquisa Google e Yahoo! relacionados ao desastre.

Fonte: Estadão

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