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Animais explorados em circo causam comoção ao serem devolvidos à natureza

3 de maio de 2015
5 min. de leitura
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Por Fernanda Franco (da Redação)

Foto: Divulgação/ADI
Foto: Divulgação/ADI

Pepe, um macaco-aranha (coatá) passou oito longos anos sendo explorado em um circo. Para viver no circo, Pepe teve seus dentes caninos arrancados para tornar-se “inofensivo” ao domínio dos exploradores, e era mantido todo o tempo acorrentado e isolado de outros animais da sua espécie.

Mas, agora, Pepe e outros 38 animais vítimas da exploração ganharam um novo destino: a liberdade. As informações são do The Dodo.

Num esforço conjunto com o governo peruano para combater a utilização de animais em circos, os 39 macacos, quatis e juparás (da mesma espécie dos quatis) foram resgatados nos últimos meses pela Animal Defenders International (ADI), em uma ação chamada Operation Spirit of Freedom (Operação Espírito da Liberdade). A utilização de animais em circos no país é proibida desde 2011.

Esses animais foram arrancados de suas mães ainda filhotes e depois mantidos em cativeiro. Para quem não sabe, os filhotes são capturados em condições altamente traumatizantes, presenciando muitas vezes a morte da mãe antes de serem aprisionados.

Após serem resgatados, esses animais passaram por um período de reabilitação em um centro de resgate, em Lima. Durante esse tempo, animais como Pepe receberam cuidados para superarem os horrores vividos em seu passado de cativeiro.

“Nesses últimos seis ou sete meses, ele (Pepe) aprendeu que poderia ter uma vida diferente e ser livre – e o mais importante: que nunca mais seria maltratado novamente”, declarou Jan.

Na semana passada, os animais foram transferidos de Lima para seu novo lar: um santuário da vida selvagem localizado próximo a Iquitos, no Peru.

Membro da equipe da ADI segura na mão de macaco para acalmá-lo durante transporte para santuário (Foto: AP Photo/Rodrigo Abd)
Membro da equipe da ADI segura na mão de macaco para acalmá-lo durante transporte para santuário (Foto: AP Photo/Rodrigo Abd)

A vida no novo lar

Essa era a primeira vez, depois de muitos anos de vida em cativeiro, que os macacos tiveram contato com seu habitat natural. Muitos deles reconheceram imediatamente que estavam em casa. Eles simplesmente sabiam que pertenciam àquele lugar. Cada esforço valeu a pena.

Foto: Divulgação/ADI
Foto: Divulgação/ADI

“Quando a ação terminou, todo mundo chorou”, declarou Jan Creamer, presidente da ADI. “A reação deles foi maravilhosa. Eles corriam, dançando e balançando entre as videiras – eles estavam absolutamente fascinados com as árvores”.

“Suas expressões eram de plenitude e alegria”, declarou Jan.

Uma macaca, em especial, chamada Cindy, teve uma reação muito comovente. “Ela subiu numa árvore e a abraçou”, disse Jan. “Nós choramos muito nessa hora”.

Pepe, por sua vez, já estava mais desconfiado, por conta de seu longo tempo de vida em cativeiro. Ele só se sentiu seguro quando a equipe da ADI o acompanhou. Ele então abraçou Jan e correu para sua nova casa.

O novo lar desses animais é uma area natural imensa localizada na floresta amazônica, próxima à cidade de Iquitos, no Peru, onde a biodiversidade foi totalmente preservada.

Adaptação: reaprendendo a ser livre

Foto: Divulgação/ADI
Foto: Divulgação/ADI

Como muitos animais após muitos anos em cativeiro perdem a memória instintiva de como viver em liberdade no ambiente selvagem, infelizmente eles não podem ser devolvidos para viver em liberdade sem algum tipo de acompanhamento e proteção – com algumas exceções.

Mas a ADI vê nesse santuário o melhor dos dois mundos: qualquer coisa que pudesse ser perigosa para os novos “moradores” foi removida, garantindo uma vida livre em seu habitat natural, mas ao mesmo tempo protegida dos perigos de uma vida completamente livre, pois esses animais – sequestrados ainda bebês de suas mães – não aprenderam a se virar sozinhos na natureza.

Considerando a necessidade desse cuidado, a ADI introduziu alguns recursos para encorajar os animais a viverem na natureza. “Como eles não sabem construir abrigos, pusemos redes e palhas, como meio de estimulá-los a perceber que podem construir também”, disse Jan.

A nova casa proporcionará também aos animais a chance de conviver e interagir com animais da mesma espécie. Como muitos foram retirados das mães ainda filhotes e depois mantidos por muitos anos isolados em cativeiro, eles ainda sabem muito pouco sobre conviver com outros animais – e esse é um fator chave para garantir a sobrevivência no meio selvagem.

“Apesar de ser um desafio, eles têm gostado bastante dessa experiência de viver com outros animais”, contou Jan.

Apesar do elo criado entre os animais e as pessoas que cuidaram deles durante o período de recuperação, agora a equipe da ADI está, aos poucos, saindo de cena, para que os macacos aprendam e se adaptem à nova vida na natureza – com o maior grau de autonomia possível.

“É claro que nós os amamos e nos importamos muito com eles. Mas eles não precisam mais de nós…”, disse Jan, referindo-se à fase de adaptação e integração dos macacos no santuário.

Outros animais como leões, tigres e um urso, todos resgatados da exploração em circos, estão sob os cuidados da ADI e devem ser transferidos para um santuário nos EUA em junho deste ano.

O custo total de todo o processo de resgate e soltura dos quase 80 animais está previsto em 1 milhão de dólares. Quem tiver interesse pode contribuir com o projeto acessando este link.

No ano que vem, a ADI pretende voltar seu foco para a Colômbia e o México, onde circos com animais também são proibidos.

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