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Dida: a história de um pintinho resgatado da indústria de ovos

3 de março de 2014
7 min. de leitura
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Por Douglas Ribeiro (da Redação)

Na Indústria
Dida nasceu em uma incubadora do Interior de São Paulo, um centro de concentração que tem como sua única função produzir pintinhos aos milhares, praticamente todos os dias. Esses pintinhos, se fêmeas, podem ter dois destinos:
1) irem para a linha de produção de ovos e viverem sua vida inteira enclausurada em gaiolas menores que uma folha sulfite para produzirem como se fossem verdadeiras máquinas até o seu corpo se esgotar, a produção cair e serem mortos;

2) irem para a produção de produtos de origem animal diretamente e passarem os próximos 45-60 dias de suas miseráveis vidas num galpão fétido, e talvez morrer por ter uma perna quebrada devido ao excesso de engorda (frequente), de ataque cardíaco antes da data de ser enviado para ser morto ou até mesmo morrer de calor durante o transporte até a avicultura.

Por utilizarem só as fêmeas, em sua maioria, ocorre uma seleção, onde os pintinhos machos não são necessários, e por isso são descartados. Isso, jogados fora, às centenas, todos os dias (apenas em uma única granja). Descartados para produção de temperos (famoso Caldo Knorr e outras marcas), para produção de Nuggets, gelatina, ração de animais e até mesmo para produção de graxa (sim, aquela mesma dos sapatos). Estes ainda “têm sorte”, pois são triturados vivos para que esses produtos possam existir. Uma granja que não possui fornecedores que comprem esses descartes e para baratear o processo de descarte, enterram os animais vivos em uma vala.

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E o Dida nasceu desse submundo, uma realidade bem distinta da apresentada nos comerciais publicitários.
Dida foi filho desse sistema imundo, filho de uma rigorosa seleção genética, drogas aplicadas em sua mãe e de diversas outras manipulações da indústria.

 

O Resgate
Na semana que antecede o Dia Internacional dos Direitos Animais trabalho é o que não falta, ativistas do Camaleão e ativistas do Veddas finalizavam algumas capturas de animais para o ato, alguns animais foram conseguidos em operação conjunta e depois separada.

No dia 6 de dezembro, Dida estava em meio aos 201 pintinhos resgatados depois de descartados por uma incubadora, todos com cerca de dois dias de vida. Um dos pintinhos veio a óbito no mesmo dia e dois ficaram sob cuidados especiais pois estavam debilitados.

Um desses pintinhos especiais mancava. Leandro e Nathália, do Camaleão, decidiram levá-lo para São Paulo em vez de deixar no sítio junto com os outros.

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Casa do Leandro
Na casa do Leandro, nas primeiras noites ele dormiu dentro de uma meia aconchegada sobre o corpo da Nathália. Ele não queria ficar sozinho por nada, gostava de brincar de perseguir as pessoas que se distanciavam. O problema na perninha foi sumindo, e ele já conseguia ciscar. O pintinho foi batizado de DIDA (em homenagem à ação do Dia Internacional pelos Direitos Animais, ação que culminou em sua retirada das garras da indústria especista).

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Casa do Douglas
Após a realização das atividades em São Paulo, Douglas, do grupo Camaleão, voltou para sua casa no interior e levou o Dida junto com o objetivo de cuidar dele durante o certo tempo que ele precisasse e depois levá-lo para algum sítio que já estava em mente e que ele teria espaço para levar uma vida que toda espécie deveria levar: em liberdade. O Dida foi bem recebido na casa.

O Bob, cão companheiro, no primeiro momento ficou bem curioso, mas não rosnou em momento algum, apenas engoliu o Dida com seu fucinho e toda sua curiosidade olfativa. Rosnar mesmo, somente alguns familiares rosnaram. Afinal, que absurdo um animal “desses” no lar, ele só é bem-vindo se for massacrado em pedaços, de outra maneira não é “normal”.

 

Casa do Ederson
Após belos longos dias e de muita “corujice” ou “galinhisse”, com todos os cuidados que uma mãe poderia ter com seu filho, o Dida foi levado por alguns dias na casa do Ederson (um amigo e ativista do Camaleão), lá o Dida teve seu primeiro contato com a grama de verdade na casa do Ederson.

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Ele era um verdadeiro guerreiro, poder acompanhar sua trajetória de um pintinho quieto e paralisado para um pintinho “tagarela” e que corria para lá e para cá me seguindo para cada lugar foi gratificante para os voluntários e também engraçado, pois ele piava mais ainda quando saía em disparada correndo atrás das pessoas. Ele gostava muito de banana e frutas. Adorava subir em cima dos farelos de comida e ciscar. Em uma vida normal, pintinhos dormem debaixo das asas aconchegantes de sua mãe, em São Paulo ele dormia junto com a Nathália em algumas ocasiões, em outras ficava enrolado em uma meia, e também tinha seu próprio bichinho de pelúcia onde ele dormia entre os braços do mesmo.

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Veterinário
Dias depois ele veio a apresentar novos problemas ficou até mesmo um dia inteiro sem andar. Nem mesmo os veterinários sabiam dizer algo concreto à respeito. Isso quando algum veterinário era encontrado nas clínicas o que foi bem difícil visto que ele apresentou problemas em um sábado/domingo. Uma boa reforçada na nutrição e em pouco tempo ele já estava bem melhor e correndo novamente.

 

Ano Novo
Após ter melhorado, o Dida foi para um sítio no final do ano. Lá, ele pôde desfrutar de mais liberdade novamente.
Ciscou, brincou, correu, pulou para todo lado e conquistou o coração de mais alguns humanos que ainda não o conheciam.

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Sítio “Enfim, Liberdade!”
Dida já estava muito bem, chegou a hora então de levá-lo para um sítio onde pudesse vivenciar a terra e ter a vida que finalmente ele merecia, ele e todas as outras espécies.

Ele ficou no sítio de uma amiga do grupo Camaleão, uma pessoa guerreira que luta constantemente pelos animais, no sítio dela, animais de diversas espécies convivem em harmonia, todos salvos de diversas situações horripilantes de maus-tratos. Talvez, o melhor momento da vida do Dida tenha sido nesse local. Apesar de todo o carinho dado anteriormente por todas as pessoas que o ajudaram, nesse sítio ele tinha o que há de melhor na vida de qualquer animal, não somente o carinho, mas também a liberdade e muita companhia de todas espécies possíveis, como o cãozinho filhote que havia chegado no sítio pouco antes dele e que brilhou os olhos ao ver o Dida, e o galo Mário seu fiel escudeiro que ficou ao lado do Dida desde o começo, principalmente até os momentos finais.

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O Dida morreu no dia 18 de fevereiro. Dois meses e alguns dias de vida.

Um tumor cresceu em seu pescoço em pouco tempo e o levou a óbito. Na indústria os animais usados para atender a demanda de produtos de origem animal, como a carne, (sobre)vivem cerca de dois meses, o dito prazo de validade da indústria. Aperfeiçoamento, “melhoramento” genético é o que dizem, na verdade, eles apenas trabalham para que o animal cresça e engorde mais rápido, não existe melhoramento algum, esses animais não estão saudáveis e além de todas as provas que já existem a cerca disso, muitos dos animais que passaram da “data de validade” estão morrendo. O Dida teve um tumor horrível em seu pescoço, uma bola maior que sua cabeça cresceu nesse local, mas os consumidores não sabem disso, visto que esses animais são mortos antes das doenças se tornarem visíveis e a indústria obviamente não divulga. Dessa forma sua história “terminou”.

Ele não desistiu, o Dida decidiu se tornar mais do que ele era, ele decidiu se tornar de verdade um símbolo dessa luta árdua contra o especismo. Será uma inspiração para fazer ainda mais pelos Direitos Animais (Veganismo).

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“Lembrar do Dida é lembrar de continuar lutando contra esse sistema baseado na exploração mesmo sabendo que os resultados podem vir após a minha própria morte”.

[youtube www.youtube.com/watch?v=Dspx-c_Um1s 610 430]

Fonte: Camaleão

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